EDITORIAL DO GLOBO
A estatal está dando os primeiros passos para se recuperar de vários anos de administração desastrosa, marcada por intensa ingerência política e escândalos de corrupção
A contabilidade da Petrobras já registra o impacto da desastrosa
administração da estatal no período de 2004 a 2012, com as perdas
decorrentes da corrupção estimadas em R$ 6 bilhões, e cerca de R$ 50
bilhões resultantes de empreendimentos mal concebidos e
irresponsavelmente executados, além da depreciação de bens por conta da
forte queda das cotações internacionais do petróleo. É uma boa notícia
que os mercados financeiros aguardavam com expectativa. Os balanços
relativos ao ano passado foram finalmente divulgados, passando pelo
crivo dos auditores independentes, sem ressalvas, pois os critérios e a
metodologia para contabilização das perdas tiveram fundamento técnico. É
um alento, após tantos anos de intensiva ingerência política na
companhia.
Para se recuperar, a Petrobras precisará gerar mais caixa em seus
próprios negócios, e para tal terá ser mais eficiente (o que significa
queda nos seus custos de produção e de venda). Não é uma tarefa
impossível diante do gigantesco mercado em que a empresa atua, com
faturamento quase todo a vista. Uma das características do setor é que o
retorno do capital é muito rápido a medida que os investimentos se
concluem. Embora a companhia tenha imensos desafios pela frente,
especialmente no desenvolvimento dos campos da camada do pré-sal na
Bacia de Santos, alguns investimentos importantes entrarem em fase de
maturação, proporcionando mais receitas e exigindo menos desembolsos da
companhia. É bem provável que a diminuição do ritmo de investimentos
anunciadas para este ano e 2016 não chegue a afetar expressivamente a
curva prevista de crescimento da produção.
Como não se espera que o governo tenha uma recaída na política de preços
dos combustíveis, represados absurdamente no fim do segundo governo
Lula e durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff, os imensos
prejuízos que vinham sendo registrados pela área de abastecimento
cessaram, como mostra o balanço do quarto trimestre de 2014.
O reforço de caixa virá também da correta decisão da diretoria de se
desfazer de patrimônio e projetos, para proporcionar um ganho
substancial sem comprometer o desempenho futuro.
A Petrobras terá pela frente um longo caminho de recuperação de
credibilidade. O primeiro passo foi dado agora, mas todo esse episódio
deve servir para que o país revise seu arcabouço institucional
(inclusive regras e sistemas de vigilância que autoridades e órgãos
reguladores, como a Comissão de Valores Mobiliários, devem ter sobre a
manipulação de resultados de companhias abertas, especialmente estatais,
sempre sujeitas a injunções político-partidárias).
É uma página simbólica da era Lula e do primeiro mandato de Dilma que ainda precisa ser virada em nossa história.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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