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11:39
ANDRADEJRJOR
EDITORIAL O ESTADÃO
Uma tradição da
República será quebrada no Dia do Trabalho: não se convocará rede
nacional de rádio e de televisão no horário nobre dos veículos para
comemorar a data. A presidente falará à Nação pela internet. Ainda não
foi divulgada a forma de como isso será feito, mas a decisão emite
claros sinais de que vem aí um novo tempo.
Cada vez mais a
comunicação entre os políticos, sejam do governo ou da oposição, se faz
pelos meios eletrônicos de comunicação de massa. O chefe do Poder
Executivo, seja quem for, tem, ano após ano, usado da prerrogativa de
convocar redes de rádio e de televisão para propagar seus feitos e fazer
suas promessas por ocasião de alguma comemoração. Usado com
comedimento, esse expediente poderia ser uma forma prática e adequada de
serviço público para permitir a chefes de governo uma comunicação
direta com a sociedade por inteiro, o que é particularmente importante
num país das dimensões do nosso. O recurso exagerado às técnicas de
marketing, contudo, tem transformado esse uso em abuso. Qualquer data
festiva é usada como pretexto para discursos de conteúdo meramente
propagandístico, de natureza unívoca e sem possibilidade de
contraditório - uma atitude que, de um lado, interfere na programação
rotineira das emissoras e, de outro, o que é mais grave, interrompe o
direito que cada cidadão tem ao entretenimento e à informação
jornalística plural e imparcial em seu tempo de lazer.
Todos os
jornais que noticiaram a decisão lembraram que a última cadeia de rádio e
de televisão convocada para propagar discurso da atual presidente
resultou num disparo pela culatra. A fala programada por Dilma Rousseff
para o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, foi recebida com um
ruidoso panelaço em várias cidades brasileiras. Houve dificuldade em
entender o que ela disse - não pela peculiar sintaxe da presidente, mas
pelo ensurdecedor ruído produzido por gritos, xingamentos e batidas em
panelas.
Depois das grandes manifestações públicas nos domingos
15 de março e 12 de abril em várias cidades, não era de esperar que o
repetido pronunciamento trabalhista de 1.º de Maio fosse recebido com
aplausos e flores pela população. Primeiramente, as relações entre o
governo e os sindicatos de trabalhadores estão estremecidas por causa de
medidas anunciadas de ajuste fiscal que interferem em privilégios e nas
chamadas conquistas de classe. Por mais que tais medidas sejam
necessárias para consertar os erros econômicos da gestão Dilma-Guido
Mantega e que a própria presidente tenha repetido que nenhum direito do
trabalhador será atingido por elas, a classe operária está, no mínimo,
ressabiada com o governo por causa disso. Além do mais, o clima
pós-manifestações continua carregado para as autoridades federais.
Protesto organizado por um grupo reduzido (de cerca de 50 pessoas,
segundo o Estado) fez o vice-presidente e coordenador político dos
pleitos do governo no Congresso, Michel Temer, cancelar na segunda-feira
passada o discurso que faria na Feira Internacional de Tecnologia
Agrícola em Ação (Agrishow), em Ribeirão Preto, a maior do agronegócio
brasileiro. Manifestantes exigiram, aos berros, o impeachment da
presidente.
O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social,
Edinho Silva, negou que o cancelamento do pronunciamento tenha alguma
relação com os protestos. "A presidenta não teme nenhum tipo de
manifestação da democracia", garantiu. Mas não encontrou nenhum motivo
plausível para justificar a desistência. E completou: "A presidenta vai
dialogar com os trabalhadores pelas redes sociais". Depois do último
movimento de massa contra o governo nas ruas, os governistas reagiram
com um "tuitaço" no lugar de entrevistas desastradas, como a do chefe da
Casa Civil, Aloizio Mercadante, e do secretário da Presidência, Miguel
Rossetto. A repetição da fórmula menos arriscada mostra que a sociedade
conquistou o direito de gozar seu feriado em paz sem impedir que
militantes aclamem a chefe em perfis de redes sociais, nem sempre
gratuitos.
extraídadoblogavarandablogspot
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