Vinicius Torres Freire FOLHA DE SÃO PAULO
Incompetência e irresponsabilidade abriram mais rombos nas contas da
Petrobras do que a corrupção direta, embora seja muito difícil discernir
a contribuição da inépcia para a roubança e vice-versa. Sem a roubança,
o resultado de 2014 até não seria ruim, feita apenas uma aritmética
simplista de desconsideração de perdas pontuais, embora brutais.
A gente fica então a imaginar o que poderia ser a maior empresa
brasileira caso a Petrobras não tivesse sido vítima das políticas
doidivanas implantadas a partir de 2008, em especial a partir de 2011,
no primeiro governo de Dilma Rousseff.
Pretinho básico no branco, a propina teria custado uns R$ 6 bilhões,
segundo o balanço de 2014 da empresa, divulgado na noite de ontem,
quando era escrita esta coluna. Esse seria o custo extra dos ativos
comprados pela empresa, devido ao "esquema de pagamentos indevidos", na
linguagem oficial do balanço.
A perda foi estimada levando em conta a "taxa básica" de propina
relatada pelos corruptos à Justiça, de 3%, aplicada aos pagamentos
feitos às empresas do "clube" da propina entre 2004 e abril de 2012
(quando em tese todos os corruptos maiores teriam caído fora da
Petrobras).
Atrasos de obras faraônicas, mal projetadas, mal planejadas e ainda
atrapalhadas pelos estragos decorrentes da corrupção e outras lambanças
provocaram prejuízos de outros R$ 31 bilhões. A vergonheira maior
ocorreu nos elefantes brancos da refinaria Abreu e Lima e no complexo
petroquímico do Rio, o Comperj. Mas houve ainda baixas nada desprezíveis
devidas à desistência de projetos como o das duas refinarias Premium
(R$ 2,83 bilhões). Perdas devidas à piora do mercado de petróleo, preços
em queda, outros R$ 10 bilhões.
No resumo da ópera, o prejuízo fechado da empresa em 2014 foi de R$ 21,6
bilhões (em 2013, houvera lucro de R$ 23,6 bilhões). Nas operações de
fato, a empresa não foi tão mal. O Ebitda ajustado (retorno que de fato
caiu no caixa, contado antes do pagamento de juros, dividendos e
amortizações) caiu 6%, mas a margem bruta de "lucro" foi de 24% (ante
23% em 2013); o lucro bruto cresceu 15%. A receita aumentou, pois foi
atenuada a política de matar a empresa a fim de maquiar a inflação por
meio do tabelamento disfarçado de preços dos combustíveis. Apesar de
tudo, mal e mal, a empresa ainda funciona.
O investimento caiu 17% de 2013 para 2014. O ritmo "Brasil Grande" da
expansão da empresa era mesmo insustentável, tocado à base de
endividamento irresponsável, em marcha forçada, à moda dos anos 1970. O
endividamento relativo da empresa subiu quase cinco vezes de 2010 para
2014, de 1 para 4,77 (trata-se aqui da proporção entre dívida líquida e
Ebitda ajustado). De 2013 para 2014, a dívida líquida ainda cresceu 27%.
O investimento vai cair mais, claro, como anunciado; vai ficar uns 30%
do planejado nos anos do delírio e mais ou menos na mesma em relação ao
realizado em 2014. Em 2016, cai outra vez, uns 14%.
Motivos: excesso de dívida, falta de crédito da empresa na praça e, como
se diz explicitamente no relatório que acompanha o balanço, a queda do
preço do petróleo, a alta do dólar e o nível de endividamento da
empresa.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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