editorial do Estadão
O PT julga que está em guerra. É o que está escrito, com todas as
letras, nas "teses" apresentadas pelas diversas facções que compõem o
partido e que serão debatidas no 5.º Congresso Nacional petista, em
junho.
De que guerra falam os petistas? Contra quem eles acreditam travar
batalhas de vida ou morte, em plena democracia? Qual seria o terrível
casus belli a invocar, posto que todos os direitos políticos estão em
vigor e as instituições funcionam perfeitamente?
As respostas a essas perguntas vêm sendo dadas quase todos os dias por
dirigentes do PT interessados, antes de tudo, em confundir uma opinião
pública crescentemente hostil ao "jeito petista" de administrar o País. O
que as "teses" belicosas do partido fazem é revelar, em termos
cristalinos, o tamanho da disposição petista em não largar o osso.
"Precisamos de um partido para os tempos de guerra", conclama a
Articulação de Esquerda em sua contribuição para o congresso do partido.
Pode-se argumentar que essa facção está entre as mais radicais do PT,
mas o mesmo tom, inclusive com terminologia própria dos campos de
batalha, é usado em todas as outras "teses". Tida como "moderada", a
chapa majoritária O Partido que Muda o Brasil avisa que "é chegado o
momento de desencadear uma contraofensiva política e ideológica que nos
permita retomar a iniciativa".
A tendência Diálogo e Ação Petista conclama os petistas a fazer a
"defesa dos trabalhadores e da nação", como se o Brasil estivesse sob
ameaça de invasão, e diz que as "trincheiras" estão definidas: de um
lado, a "direita reacionária"; de outro, os "oprimidos". A chapa
Mensagem ao Partido quer nada menos que "refundar o Estado brasileiro",
por meio de uma "revolução democrática" - pois o "modelo formal de
democracia", este que vigora hoje no Brasil, com plena liberdade
política e de organização, "não enfrenta radicalmente as desigualdades
de renda e de poder".
Da leitura das "teses" conclui-se que o principal inimigo dos petistas é
o Congresso, pois é lá que, segundo eles dizem, se aglutinam as tais
forças reacionárias. O problema - convenhamos - é que o Congresso
representa a Nação, o povo. Se o Congresso resiste a aceitar a agenda do
PT, então a solução é uma "Constituinte soberana e exclusiva", cuja
tarefa é atropelar a vontade popular manifestada pelo voto e mudar as
regras do jogo para consolidar o poder das "forças progressistas" - isto
é, o próprio PT.
Uma vez tendo decidido que vivem um estado de guerra e estabelecidos
quem são os inimigos, os petistas criam a justificativa para apelar a
recursos de exceção - o chamado "vale-tudo". O principal armamento do
arsenal petista, como já ficou claro, é o embuste. O partido que apenas
nos últimos dez anos teve dois tesoureiros presos sob acusação de
corrupção, que teve importantes dirigentes condenados em razão do
escândalo da compra de apoio político no Congresso e que é apontado como
um dos principais beneficiários da pilhagem da Petrobrás é o mesmo que
diz ter dado ao País "instrumentos inéditos" para punir corruptos. Há
alguns dias, o ex-presidente Lula chegou ao cúmulo de afirmar que os
brasileiros deveriam "agradecer" ao PT por "ter tirado o tapete que
escondia a corrupção".
É essa impostura que transforma criminosos em "guerreiros do povo
brasileiro", como foram tratados os mensaleiros encarcerados. Foi essa
inversão moral que levou o governador petista de Minas, Fernando
Pimentel, a condecorar o líder do MST, João Pedro Stédile, um notório
fora da lei, com a Medalha da Inconfidência, que celebra a saga
libertária de Tiradentes. A ofensiva dos petistas é também contra a
memória nacional.
Ao explorar a imagem da guerra para impor sua vontade aos adversários -
inclusive o povo -, o PT reafirma seu espírito totalitário. A
democracia, segundo essa visão, só é válida enquanto o partido não vê
seu poder ameaçado. No momento em que forças de oposição conseguem um
mínimo de organização e em que a maioria dos eleitores condena seu modo
de governar, então é hora de "aperfeiçoar" a democracia - senha para a
substituição do regime representativo, com alternância no poder, por um
sistema de governo que possa ser totalmente controlado pelo PT, agora e
sempre.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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