Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 29 de abril de 2015

"Estatizem a Petrobras",

por Clóvis Rossi Folha de São Paulo

 

A melhor saída para a crise da Petrobras é estatizar a empresa.
Sim, você leu bem: estatizar uma companhia que em tese é pública, mas que nos últimos muitos anos foi privatizada pela porta dos fundos.
Torna-se até ridícula a tese esgrimida por alguns petistas e colunistas segundo os quais o alarido em torno da Lava Jato é apenas uma maneira de aplainar o terreno para a privatização da Petrobras.
Acorda, gente. A Petrobras está privatizada.
Privatizada para um corpo de diretores dos quais dois são corruptos confessos, um terceiro está preso sob sólidos indícios de que é igualmente corrupto e os demais são incompetentes, aí incluídos os dois presidentes mais recentes.
Incompetência dupla, aliás. Primeiro, porque nenhum deles viu esvaírem-se R$ 6,2 bilhões pela corrupção de seus pares. Não é o troco para o ônibus, não é uma esmolinha para o primeiro pobre com que se cruzar. É muito, mas muito dinheiro.
Incompetência ainda maior na gestão. Como relatou esse brilhante Vinicius Torres Freire nesta Folha, "atrasos de obras faraônicas, mal projetadas, mal planejadas e outras lambanças resultaram em prejuízos de R$ 31 bilhões" –cinco vezes mais, portanto, que a roubalheira.
A Petrobras foi também privatizada para empreiteiras, que a transformaram em um playground para seu clube de propinas. Você acredita que as propinas saíram do lucro das empresas envolvidas?
Não, saíram de sobrepreços ou outras modalidades de assalto à Petrobras.
Privatizada, por fim, para partidos políticos, o PT, o PP e o PMDB (talvez haja outros). Não há a mais leve racionalidade em uma empresa petrolífera ter "operadores" deste ou daquele partido.
É uma aberração que só ocorreu pela privatização de uma empresa que deveria ser pública.
Petrolíferas são feitas para extrair petróleo, não para delas extrair contribuições de campanha para quem quer que seja. Perdoe a obviedade, necessária porque o escândalo é tão maiúsculo que ameaça esconder obviedades.
Estatizar a Petrobras talvez permitisse restabelecer o controle do Estado sobre uma empresa da qual é o maior acionista e cuja importância se mede pelo fato de que corresponde a 3,5% da economia brasileira, se considerado o valor de mercado, conforme as contas de Marcos Troyjo, também nesta Folha.
O Estado brasileiro tem, na teoria, muitos instrumentos de controle. Se a Petrobras não tivesse sido privatizada, talvez um deles detectasse alguma coisa nesse tsunami de irregularidades e conseguisse evitar parte dos crimes e da incompetência.
É inacreditável que nem mesmo o corpo técnico da companhia, que tem de fato um histórico de alta qualificação, tenha percebido algo.
Será verdade o que disse o ex-presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, que a corrupção é impossível de detectar?
Se é verdade, então todos os absurdos apontados pela Lava Jato podem perfeitamente se repetir, a menos, insisto, que a Petrobras seja colocada sob controle do Estado –no discutível pressuposto de que o Estado brasileiro funciona.
extraídadoblogrota2014

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