por Clóvis Rossi Folha de São Paulo
A melhor saída para a crise da Petrobras é estatizar a empresa.
Sim, você leu bem: estatizar uma companhia que em tese é pública, mas
que nos últimos muitos anos foi privatizada pela porta dos fundos.
Torna-se até ridícula a tese esgrimida por alguns petistas e colunistas
segundo os quais o alarido em torno da Lava Jato é apenas uma maneira de
aplainar o terreno para a privatização da Petrobras.
Acorda, gente. A Petrobras está privatizada.
Privatizada para um corpo de diretores dos quais dois são corruptos
confessos, um terceiro está preso sob sólidos indícios de que é
igualmente corrupto e os demais são incompetentes, aí incluídos os dois
presidentes mais recentes.
Incompetência dupla, aliás. Primeiro, porque nenhum deles viu
esvaírem-se R$ 6,2 bilhões pela corrupção de seus pares. Não é o troco
para o ônibus, não é uma esmolinha para o primeiro pobre com que se
cruzar. É muito, mas muito dinheiro.
Incompetência ainda maior na gestão. Como relatou esse brilhante
Vinicius Torres Freire nesta Folha, "atrasos de obras faraônicas, mal
projetadas, mal planejadas e outras lambanças resultaram em prejuízos de
R$ 31 bilhões" –cinco vezes mais, portanto, que a roubalheira.
A Petrobras foi também privatizada para empreiteiras, que a
transformaram em um playground para seu clube de propinas. Você acredita
que as propinas saíram do lucro das empresas envolvidas?
Não, saíram de sobrepreços ou outras modalidades de assalto à Petrobras.
Privatizada, por fim, para partidos políticos, o PT, o PP e o PMDB
(talvez haja outros). Não há a mais leve racionalidade em uma empresa
petrolífera ter "operadores" deste ou daquele partido.
É uma aberração que só ocorreu pela privatização de uma empresa que deveria ser pública.
Petrolíferas são feitas para extrair petróleo, não para delas extrair
contribuições de campanha para quem quer que seja. Perdoe a obviedade,
necessária porque o escândalo é tão maiúsculo que ameaça esconder
obviedades.
Estatizar a Petrobras talvez permitisse restabelecer o controle do
Estado sobre uma empresa da qual é o maior acionista e cuja importância
se mede pelo fato de que corresponde a 3,5% da economia brasileira, se
considerado o valor de mercado, conforme as contas de Marcos Troyjo,
também nesta Folha.
O Estado brasileiro tem, na teoria, muitos instrumentos de controle. Se a
Petrobras não tivesse sido privatizada, talvez um deles detectasse
alguma coisa nesse tsunami de irregularidades e conseguisse evitar parte
dos crimes e da incompetência.
É inacreditável que nem mesmo o corpo técnico da companhia, que tem de
fato um histórico de alta qualificação, tenha percebido algo.
Será verdade o que disse o ex-presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, que a corrupção é impossível de detectar?
Se é verdade, então todos os absurdos apontados pela Lava Jato podem
perfeitamente se repetir, a menos, insisto, que a Petrobras seja
colocada sob controle do Estado –no discutível pressuposto de que o
Estado brasileiro funciona.
extraídadoblogrota2014
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