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10:00
ANDRADEJRJOR
Merval Pereira O GLOBO
Se
a presidente Dilma tinha dúvidas sobre o discurso de 1 de maio, na segunda feira
elas devem ter se dissipado ao saber que o vice-presidente Michel Temer
foi impedido, pelo temor das vaias, de discursar na abertura do Agrishow
2015 em Ribeirão Preto, a mais importante do setor agropecuário, onde a
própria Dilma e o ex-presidente Lula já estiveram anteriormente sem o
menor problema. Daí à decisão de não usar pela primeira vez a cadeia
nacional de rádio e televisão, com receio de um panelaço, foi um pulo.
Na segunda feira,
os manifestantes traziam cartazes contra Dilma, Lula, o PT e até o
tesoureiro João Vaccari. A presidente Dilma encontra-se no governo, mas
não tem mais poder, exagerou a revista britânica The Economist ao
registrar a terceirização da economia para o ministro da Fazenda Joaquim
Levy, um liberal da escola de Chicago, e a política para o vice Michel
Temer, que personifica o poder do PMDB na coalizão governamental que se
desmancha a cada dia.
A
aparência de normalidade que já começava a entusiasmar alguns
militantes petistas, especialmente aqueles que têm blogs a serviço do
governo, desvaneceu-se no ar com a certeza de que seria politicamente
inviável um pronunciamento da presidente Dilma no dia do Trabalho, que
os governos petistas aproveitam há doze anos para fazer proselitismo
político.
O
receio de receber um panelaço como resposta popular desaconselhou a
tentativa, assim como faz com que tanto Dilma quanto Lula só apareçam em
público em situações controláveis por seus esquemas políticos. Em
Ribeirão Preto a presidente Dilma já sabia que não seria possível essa
blindagem, e mandou Temer, uma figura neutra politicamente, como seu
representante.
Mas
nem o vice-presidente nem a ministra da Agricultura Katia Abreu – uma
legítima representante do setor – escaparam das vaias, dirigidas
especificamente ao PT e a Lula e Dilma. Até o governador de São Paulo, o
tucano Geraldo Alckmin, que não tinha nada a ver com a história, achou
prudente não ler o discurso que preparara.
Ontem,
fora da agenda, Dilma encontrou-se com Lula em São Paulo, provavelmente
no intervalo dos exercícios físicos do ex-presidente, que se prepara
para disputar a eleição de 2018 como os grandes líderes populistas e
autoritários costumam fazer para demonstrar sua capacidade física.
Putin
cansa de aparecer sem camisa, cortando lenha ou mergulhando em águas
geladas. Mao nadou há 49 anos no rio Yang Tsé, o mais longo da Ásia,
para demonstrar que continuava sendo capaz de governar a China. Collor
corria, dirigia lanchas velozes e praticava esportes.
Pois
consta que Lula, e também o marqueteiro João Santana, eram contra a
aparição de Dilma na televisão a 1 de Maio. Talvez o ministro do
Trabalho do PDT faça o papel de Dilma no horário oficial, se oferecendo
para receber o panelaço em seu lugar.
Seria
uma punição interessante para o partido, cujo presidente, Carlos Lupi,
deu em entrevista no fim de semana dizendo que o PT “exagerou” no roubo e
que o PDT se preparava para deixar a coligação governista por que o
tempo do PT já passou.
Depois
de ter conversado com o ministro Manoel Dias, mudou de idéia e anunciou
que o partido continuaria na coligação, isto é, à frente do ministério
do Trabalho. Pelo menos para levar um panelaço em nome da presidente.
Em
meio a essa situação embaraçosa, semelhante em tudo ao último ano do
ex-presidente José Sarney, em que não pode sair do Palácio sem
arriscar-se em praça pública, a presidente Dilma ainda tem poder para
definir uma série de coisas, inclusive as privatizações, isto é,
concessões, do setor de infraestrutura, mas não tem condições políticas
de abrir a boca em público sem levar uma vaia ou um panelaço. Vamos ver o
que acontecerá com a aparição na internet. O perigo é algum hacker
antipetista armar uma armadilha para a presidente.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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