Eliane Cantanhêde O ESTADO DE SÃO PAULO
O encantado balanço da Petrobrás desencantou, confirmando, agora em
números, qual o primeiro e maior problema da principal companhia
brasileira: a ingerência política. Foi ela, a ingerência política, que
fechou o triângulo mortal da corrupção, do péssimo gerenciamento e do
represamento artificial das tarifas. Deu no que deu.
Essa conjunção maldita acabou com a saúde e com a imagem da Petrobrás no
País e no mundo, mas o pior é que não foi uma exclusividade da
Petrobrás, mas sim a marca dos anos do PT, particularmente dos anos
Lula, nos órgãos públicos e nas estatais. Aparentemente, nada escapa.
Foi por interesses políticos que o então presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, a partir de sua posse, em janeiro de 2003, nomeou sindicalistas
alinhados ao PT para a presidência da Petrobrás e para as diretoriais do
Banco do Brasil, por exemplo, e fatiou os principais cargos da
petroleira entre "companheiros" petistas e "operadores" dos partidos
aliados. Só podia descambar para esse descalabro.
O resultado mais gritante no balanço anunciado na noite de quarta-feira é
o das perdas de R$ 6,2 bilhões por causa da corrupção e, apesar de nada
módico, esse total é visto com muita desconfiança por especialistas. Há
quem imagine que a sangria foi ainda maior. Se você nomeia um diretor
para abastecer as contas do PT e bolsos de petistas, outro para rechear
as contas do PMDB e carteiras de pemedebistas, um terceiro para engordar
as contas do PP e o patrimônio de pepistas, deveria saber o que estava
fazendo. Tudo isso se embolou com o velho cartel de empreiteiras e com
os doleiros de sempre e a consequência é: corrupção.
Mas há dois outros resultados irritantes no balanço apresentado pelo
novo presidente da companhia, Aldemir Bendine. O segundo é o mau
gerenciamento da empresa, o que não chega a ser surpreendente quando
sindicalistas e apadrinhados se dão ao luxo de definir os investimentos
da nossa Petrobrás para atender os interesses do Palácio do Planalto. É
assim que surgem obras muito caras - e de potencial duvidoso - em
Estados governados por amigos do rei. Sobressaem-se aí pomposas
refinarias, agora abandonadas.
O terceiro resultado é o efeito corrosivo do represamento político dos
preços da gasolina para postos e consumidor. Lula segurou para não
arranhar a sua já imensa popularidade. Deu tão certo que ele continuou
segurando para se reeleger, para eleger Dilma da primeira vez, para
reeleger Dilma em 2014. O efeito foi ótimo para eles e péssimo para a
Petrobrás.
Mais cedo ou mais tarde, essa conta chega para o consumidor/eleitor. E
está chegando da forma mais perversa. Antes, o petróleo estava caro lá
fora e a gasolina era barata aqui dentro. Agora, o petróleo está barato
lá fora e a gasolina vai ficar mais cara aqui dentro. Senão, a conta não
fecha, a credibilidade não volta, a "nova Petrobrás" anunciada em Nova
York pelo ministro Joaquim Levy nunca vai aparecer.
Até lá, a "velha Petrobrás" é o grande "case" dos dois governos Lula.
Quem descrever todas as nomeações políticas, o gerenciamento político e a
administração política de preços da Petrobrás vai conseguir contar como
foram os anos do PT nas estatais brasileiras. Sem esquecer de contar o
final da história: nas campanhas, o PT atribuiu aos adversários a
intenção de privatizar a Petrobrás, mas é o próprio governo do PT que
vai sair vendendo tudo o que puder da petroleira para diminuir o
prejuízo. Vão ter de vender muito, porque a Petrobrás é a empresa mais
endividada do mundo.
Detalhe constrangedor: foi justamente a ministra de Minas e Energia,
depois chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da
Petrobrás do pior e mais obscuro período da Petrobrás que acabou sendo
eleita para suceder Lula - e ainda foi reeleita. Só para completar, a
sua grande marca era a de... gerentona.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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