editorial da Folha de São Paulo
Não foi imagem bonita de ver. Professores da rede estadual paulista, em
greve há 41 dias, atacaram na quinta-feira (23) a sede da Secretaria da
Educação e tentaram ocupar a repartição.
Usando máscaras improvisadas com camisetas, os mais desvairados
empregaram uma barra metálica como aríete contra as portas gradeadas do
Caetano de Campos, um edifício tombado. Houve bombas e pedradas na
refrega com a polícia. A invasão fracassou.
Algo mais que as vidraças do prédio histórico se quebrou ali. Ao
recorrerem à violência para buscar impor pontos de vista na negociação
com o governo Geraldo Alckmin (PSDB), os mestres indisciplinados
danificaram a imagem de toda uma categoria.
O mau exemplo oferecido diante das câmeras não recebeu condenação da
Apeoesp, inexplicavelmente. O sindicato descreveu o ataque com
eufemismos, como manifestação de descontentamento.
O movimento havia começado mal, de todo modo. A reivindicação central,
reajuste de 75%, é descabida na atual conjuntura das contas públicas no
Estado e no país.
Apontar o exagero não implica concordar que os salários atuais sejam
bons o bastante para recrutar os melhores egressos das universidades
para a carreira. A remuneração média do professor estadual está em R$
2.725, abaixo do nível de trabalhadores com diploma superior no Estado
(R$ 4.449).
A cifra, no entanto, abarca situações muito diversas, do professor com
jornada de 12 horas semanais até o que trabalha 40 horas. No segundo
caso, os ganhos sobem para R$ 4.416 –ainda assim insuficientes para
distinguir a docência como profissão atrativa.
Há distorções no próprio serviço público. Um agente penitenciário, do
qual não se exige nível universitário, percebe em média R$ 4.503; um
sargento da Polícia Militar, com diploma superior, R$ 5.692.
Apesar dos riscos envolvidos nessas ocupações, não se pode dizer que o
ensino seja um serviço de menor valor que a segurança. Mas já seria
desmedida uma equiparação dos professores com os médicos do Estado (R$
7.339), pois estes têm de investir muito mais tempo de estudo em sua
qualificação.
Mesmo que venha de forma escalonada, o aumento de 75% aos professores
implicaria despesa adicional bilionária, pois são 230 mil os docentes da
rede paulista.
Por mais que se concorde com a necessidade de valorizar a profissão docente, como sempre defendeu esta Folha, parece manifesto que o sindicato aposta num impasse e no prolongamento da greve.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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