EDITORIAL ESTADÃO
A má notícia de que a Petrobras teve no ano passado um prejuízo de
astronômicos R$ 22 bilhões, o primeiro resultado negativo em quase um
quarto de século, foi de certo modo contrabalançada pela boa notícia de
que a Justiça, no prazo relativamente curto de um ano, começa a condenar
os responsáveis pelo assalto aos cofres da estatal. Para o governo do
PT, no entanto, a quarta-feira trouxe apenas as más notícias de mais
três derrotas no Congresso: a aprovação, no Senado, do projeto que
institui o voto distrital para vereadores; a aprovação, na Câmara, da
proposta de limitar a 20 o número de Ministérios; e, também na Câmara, a
aprovação do texto original que amplia a terceirização de serviços para
todas as atividades das empresas.
Abalado pela maciça reprovação popular, o governo de Dilma Rousseff
contempla impotente o esfacelamento de sua base de apoio parlamentar,
enquanto as principais lideranças de seu maior "aliado", o PMDB,
governam de fato e tripudiam sobre a incompetência política do Palácio
do Planalto.
Diante desse circo de horrores, a ameaça de impeachment, ainda longe de
uma base legal concreta capaz de viabilizá-lo, é certamente a menor das
preocupações da presidente. Sem poder de influência sobre um Legislativo
comandado por políticos que se têm dedicado a explorar o desprestígio
da chefe do governo em benefício próprio e de uma estrutura política que
lhes convém - veja-se o exemplo da triplicação da verba do Fundo
Partidário -, Dilma Rousseff enfrenta o desafio de corrigir os erros de
seu primeiro mandato sem o apoio - pior, com a hostilidade - do
Parlamento. Veja-se o exemplo da resistência de deputados e senadores às
medidas propostas para o reajuste fiscal.
É claro que o Congresso Nacional não tem obrigação de aprovar tudo o que
o Poder Executivo pede, pois a autonomia e a independência dos Poderes
da República são fundamento institucional do sistema democrático de
governo. Mas tanto o Executivo como o Legislativo exercem poderes
delegados pela sociedade para serem aplicados em benefício da
coletividade e não de interesses mesquinhos. E isso só funciona quando
os mandatários da vontade popular são capazes de estabelecer um mínimo
de harmonia entre os Poderes. Não é o que se vê.
Dilma assumiu o segundo mandato ciente de que teria pela frente a tarefa
extremamente desafiadora de corrigir a sucessão de erros cometidos nos
seus primeiros quatro anos. Tanto que, uma vez eleita, renegou o que
havia afirmado e prometido na campanha eleitoral e entregou o comando da
equipe econômica a um economista de formação liberal. Possivelmente
prevendo as dificuldades que teriam pela frente, Dilma e o PT chegaram à
conclusão de que era necessário reforçar a hegemonia petista no
Congresso, mas escolheram o caminho errado: fragilizar o maior aliado, o
PMDB. O tiro saiu pela culatra.
Por sua vez, o PMDB, partido do vice-presidente da República e eventual
beneficiário do impeachment de Dilma, uma vez tendo submetido o governo à
comprovação pública de sua incompetência também na área política,
passou a demonstrar, por palavras e atos, sua verdadeira vocação: o
exercício do poder como um fim em si mesmo, com todas as vantagens e
privilégios daí decorrentes. No que, aliás, em nada se diferencia do PT.
E não satisfeitas com a conquista do poder de fato, as principais
lideranças do PMDB passaram a tripudiar sobre a desventura petista.
Diante da indignação geral com que foi recebida a triplicação da verba
do Fundo Partidário, o notório Renan Calheiros, presidente do Senado,
jogou toda a responsabilidade sobre os ombros de Dilma Rousseff,
declarando que a presidente da República optou pela "pior solução" ao
não vetar a medida. Até as maçanetas do Senado sabem que Dilma pode ter
tido o impulso, mas faltaram-lhe condições para vetar, diante da pressão
dos partidos, inclusive do PMDB, e do temor de que sua decisão
comprometesse ainda mais a tramitação no Congresso dos projetos
relacionados ao ajuste fiscal.
Nesse cenário burlesco exposto a uma nação perplexa, pode parecer que só o governo perde. Mas, no fim, perdemos todos.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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