editorial da Folha de São Paulo
A publicação do balanço de 2014 da Petrobras é apenas o primeiro passo
da longa caminhada de reconstrução da empresa depois do ciclo de
desgraça a que foi submetida de 2004 a 2012: imprudência inaceitável,
incompetência descomunal e corrupção voraz.
O prejuízo do período monta a R$ 50,8 bilhões, dos quais R$ 6,2 bilhões
ligam-se diretamente aos desvios sistemáticos praticados nas principais
diretorias da estatal –o cálculo baseou-se em depoimentos da Operação
Lava Jato que apontaram propina de 3% nos contratos.
Os R$ 44,6 bilhões restantes decorrem de erros grosseiros no
planejamento e na execução de projetos e, em menor medida, de pioras nas
condições de mercado –a queda do preço do petróleo, por exemplo, reduz o
valor de investimentos realizados em exploração.
O estouro nos custos não se relaciona apenas com a má gestão da última
década, porém. Por certo o clima de euforia irresponsável e o uso
político da estatal nos mandatos petistas contaminaram o corpo
dirigente. Perdeu-se a noção de diligência no trato do dinheiro alheio.
Também é óbvio que as propinas incentivaram tal conduta. Projetos
faraônicos e custos fora de controle, que resultam do ambiente delituoso
que vigorou na empresa, agora se disfarçam nas ineficiências.
Vencida a etapa do balanço, a empresa precisa reformular seu plano de
negócios a fim de preservar caixa e reduzir o endividamento, que chega a
quase cinco vezes a geração de lucro operacional –o ideal é menos de
três vezes.
O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, indica que será firme na
reestruturação. Cogitam-se cortes expressivos nos investimentos, gestão
mais inteligente de ativos (inclusive com vendas e parcerias com o setor
privado) e política financeira mais conservadora.
Também são desejáveis mudanças nas regras de exploração do pré-sal e na
política de conteúdo nacional, que sobrecarregam a empresa sem que
ofereçam em troca benefícios tangíveis para acelerar a exploração dos
campos de petróleo.
Não fosse por um aspecto dos mais relevantes, seria possível afirmar que
a longa crise começa a ser superada. Bendine, que chegou ao comando da
Petrobras somente neste ano, agiu bem ao pedir desculpas e declarar-se
envergonhado. Falta, agora, que os responsáveis políticos pelo maior
escândalo de corrupção e má gestão da história nacional tenham a
decência de fazer o mesmo.
Nada aconteceu por acaso. O ex-presidente Lula e a presidente Dilma
Rousseff –que dirigiu o Conselho de Administração da Petrobras de 2003 a
2010– têm o dever de explicar ao país como se consumou tamanho desastre
em suas gestões.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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