editorial do Estadão
No
momento em que a máquina petista de destruir reputações funcionava a
plena carga para desqualificar o trabalho do juiz Sérgio Moro, o
magistrado tratou de demonstrar equilíbrio ao determinar as primeiras
sentenças condenatórias no âmbito do escândalo da Petrobrás. Com
serenidade, Moro fez valer os acordos de delação, estimulando dessa
maneira outros implicados a contar o que sabem. Ao mesmo tempo,
desmentiu cabalmente aqueles que o acusam de presidir um tribunal de
exceção.
Moro
condenou o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa
e o doleiro Alberto Youssef por crime de lavagem de dinheiro relativo a
contratos para a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Costa foi condenado também por constituir organização criminosa.
Além
dos dois, o juiz federal condenou Márcio Andrade Bonilho, da Sanko
Sider, e Leonardo Meirelles, da Labogen. Segundo a sentença, essas
empresas foram usadas para lavar o dinheiro desviado das obras, por meio
de pagamento de contratos superfaturados entre 2009 e 2014. Também
foram condenados Waldomiro de Oliveira, Pedro Argese Júnior, Leandro
Meirelles e Esdra de Arantes Ferreira, considerados os "laranjas" da
operação. Todos podem recorrer das sentenças.
As
penas desses "laranjas" e as dos empresários variam de 5 anos de prisão
em regime semiaberto até 11 anos e 6 meses em regime fechado. Costa,
por sua vez, foi condenado a 7 anos e meio de reclusão, mas, em razão do
acordo de delação, ficará em prisão domiciliar até outubro de 2016,
quando então passará ao regime aberto. Já Youssef, que pegou 9 anos e 2
meses de prisão, passará ao regime aberto em 2018.
Em
sua sentença, o juiz Moro salientou que a redução das penas de Costa e
Youssef pode ser ainda maior, caso decidam entregar mais criminosos, e
defendeu a delação premiada como uma forma "válida e eficaz" de elucidar
crimes. O imenso novelo de crimes que as delações vêm desembaraçando
prova que ele está certo.
Todos
os réus, com exceção de Costa e Youssef, foram condenados também a
pagar reparação mínima por danos à Petrobrás no valor de R$ 18,6 milhões
- cifra que se refere a 20 operações de lavagem de dinheiro, por meio
de 6 empresas de fachada, realizadas entre julho de 2009 e maio de 2012.
O ex-diretor e o doleiro ficaram de fora dessa sentença de indenização
porque o acordo de delação já prevê alguma forma de ressarcimento.
O
caso da Refinaria Abreu e Lima é simbólico dentro do cada vez mais
complexo escândalo da Petrobras. O custo da obra - anunciada com enorme
fanfarra em 2005 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva -
saltou de R$ 2,5 bilhões para R$ 20 bilhões. Sem nenhum planejamento
técnico, submetido somente ao arbítrio político de Lula, o
empreendimento transformou-se em uma mina de ouro para gatunos,
políticos ou não.
Em
2010, o País foi alertado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de que
os contratos da Abreu e Lima estavam sendo superfaturados e que seria
necessário paralisar o processo para fazer a devida verificação. Como
resposta, Lula acusou o TCU de causar prejuízos ao Brasil e manobrou o
Orçamento para permitir que as obras da refinaria continuassem a receber
recursos.
A
empreiteira responsável por Abreu e Lima é a Camargo Corrêa. Os
dirigentes da empresa implicados nesse caso ainda não foram julgados,
porque respondem a um processo separado, acusados de crime de corrupção.
Cada episódio do escândalo do petrolão está sendo tratado isoladamente
pelas autoridades, que consideraram esse método mais eficaz para apurar
as responsabilidades pela devastação dos bens da Petrobrás.
Portanto,
há ainda um longo caminho até que todos os culpados pelo escândalo, em
todas as suas inúmeras frentes, sejam devidamente punidos. Por essa
razão, espera-se que a justa firmeza demonstrada nas primeiras sentenças
seja o padrão a caracterizar o restante do processo - não só para que
os corruptos paguem pelo que fizeram, mas também para desmoralizar os
velhacos que, a título de defender o "Estado de Direito", tudo fazem
para proteger a companheirada que assaltou os cofres públicos.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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