EDITORIAL ESTADO DE SÃO PAULO
Por causa dos maus resultados que acumulou nos primeiros quatro anos do
governo Dilma Rousseff, o Brasil vai se transformando numa referência
negativa da economia mundial. Quando o desempenho de outros países é
ruim ou não corresponde ao esperado, o do Brasil é ainda pior. Isso tem
ocorrido quando se comparam dados internacionais de crescimento,
inflação ou política fiscal. O exemplo mais recente de comparações
internacionais que mostram a deterioração mais acentuada das condições
econômicas do Brasil do que as de outros países está nos dados e
projeções do comércio internacional que acabam de ser divulgados pela
Organização Mundial do Comércio (OMC).
O desempenho do comércio mundial no ano passado, com expansão de apenas
2,8% em valor, foi bem inferior ao da média dos dez anos entre 2005 e
2014, quando a expansão foi de 7% ao ano. Num cenário pouco animador, o
Brasil registrou a maior queda das exportações entre as 30 principais
economias exportadoras do mundo. Em 2014, quando as exportações mundiais
cresceram 1%, o total exportado pelo País, de US$ 225,1 bilhões, foi 7%
menor do que o de 2013, de US$ 242,5 bilhões.
Nos últimos anos, como observou o diretor-geral da OMC, o diplomata
brasileiro Roberto Azevêdo, o crescimento do comércio mundial tem sido
decepcionante, em razão da desaceleração econômica provocada pela crise
financeira. A acentuada queda dos preços internacionais do petróleo (de
47% entre julho e dezembro do ano passado) e o que a OMC chama de
"debilidade" dos preços de outros produtos básicos também reduziram o
dinamismo do comércio internacional. A situação tende a melhorar um
pouco em 2015, mas menos do que a OMC esperava há algum tempo - ela
reviu de 5% para 3,3% sua projeção para o aumento do comércio mundial
neste ano. Para 2016, projeta-se aumento maior, de 4%, mas ainda abaixo
da média dos últimos 10 anos.
Para o Brasil, a recuperação será bem mais lenta. "O Brasil, como outros
países sul-americanos e de outras regiões, sofreu com a queda nos
preços de commodities em 2014 e vemos que esse fenômeno pode continuar a
afetar no futuro próximo", advertiu Azevêdo. Em 2015 e 2016, os países
sul-americanos terão o pior desempenho do mundo, com aumento de seu
comércio exterior de apenas 0,2% neste ano e de 1,6% no próximo. O
grande responsável por esses resultados fracos será o Brasil.
A China, que tem sido um dos principais destinos das exportações
brasileiras, está importando menos. É a consequência da redução do
crescimento econômico. Em março, as importações chinesas encolheram
12,7%, na comparação com março de 2014. Embora no primeiro trimestre
deste ano tenha reduzido em 40% (em volume) as importações de carvão, na
comparação com as compras do período janeiro-março de 2014, a China
importou mais minério de ferro - principal produto da pauta de
exportações do Brasil para o país. O aumento em março, na comparação com
março de 2014, foi de 8,9%. Mas, em valor, as compras chinesas
encolheram, pois a cotação do minério de ferro caiu 19% só em março,
baixando para o menor nível desde 2008.
Tendo perdido competitividade e mercado no comércio de bens
industrializados - que tende a ser mais estável do que o de commodities,
tanto em volume como em valor -, o Brasil não tem meios para compensar a
queda do valor das exportações de produtos primários. Por isso, nos
últimos quatro anos, vem perdendo posições na classificação dos maiores
exportadores mundiais. É uma mudança em relação à tendência observada na
primeira década do século 21. Em 2001, o Brasil detinha 0,9% do
comércio internacional e era o 28.º maior exportador. Em 2005, com 1,1%
do comércio mundial, era o 25.º maior exportador. Sua participação
continuou a crescer, até alcançar 1,3% do total comercializado em todo o
mundo. A queda dos preços do minério de ferro, do aço, do açúcar, da
soja e outros contribuiu fortemente para mudar a tendência. Mas a OMC
aponta para outro problema: também em volume as exportações brasileiras
estão diminuindo.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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