editorial da Folha de São Paulo
Não é de hoje que os governos do PT lidam mal com os conceitos gêmeos de
concessão de serviços públicos e agências reguladoras independentes
para garantir-lhes a qualidade. A presidente Dilma Rousseff rendeu-se em
teoria à primeira das noções, mas sua pouca convicção se manifesta no
descaso com a segunda.
A supervisão de setores como transportes, eletricidade, águas,
telecomunicações e saúde vive um vácuo decisório. A Presidência
procrastina a indicação de diretores para as agências, que ainda
precisam ser aprovados pelo Senado.
Beira o surreal, por exemplo, a situação da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac). A diretoria deveria ter cinco pessoas, mas só duas vagas
se acham preenchidas. Não alcança nem o quórum para tomada de decisões,
três votos.
Qualquer usuário dos deficientes aeroportos brasileiros e vítima das
arbitrárias decisões operacionais das empresas aéreas sabe que esse
serviço está a muitas milhas de um nível de qualidade razoável. Se a
função da Anac é defender os interesses do público, não se concebe que o
governo permita tamanho desfalque na sua composição.
Em posição semelhante, se não pior, se encontra a Agência Nacional de
Transportes Terrestres (ANTT). Compete-lhe aprovar concessões de
rodovias e ferrovias, outro ramo da infraestrutura nacional que não
prima pela eficiência.
Nesse caso, apenas uma das cinco diretorias está preenchida de fato;
outras três estão ocupadas interinamente. Para deliberações, são
necessários pelo menos três dirigentes –supõe-se que plenos.
Essas são as situações que envolvem maior insegurança quanto às
resoluções tomadas pelas agências. Na Anac, uma brecha legal permite que
o diretor-geral decida tudo sozinho, mas seus atos podem ser revistos
pelo novo colegiado, se e quando for recomposto.
Há diretorias vacantes também na Anvisa (vigilância sanitária), Anatel (telecomunicações) e ANS (saúde suplementar).
Soa quase pueril a alegação da Casa Civil de que a demora se deve ao
fato de 2014 ter sido um ano eleitoral. A responsabilidade do Planalto
reside em encontrar, precisamente, nomes de alto gabarito técnico e sem
vinculação partidária para postos em que o indicado se torna, na
prática, indemissível.
No passado, a desconfiança petista com a independência das agências reguladoras desaguou no seu aparelhamento pela legenda.
Não houve progresso nessa área. Se antes o critério político comprometia
a necessária autonomia dessas instâncias de controle, agora o
imobilismo de Dilma Rousseff permite que as agências se enfraqueçam pela
simples falta de quórum.
extraídadoblogrota2014
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