editorial do Estadão
A grave crise política e econômica na qual o País está mergulhado coloca
Dilma Rousseff na berlinda. E não poderia ser diferente. Afinal, ela é a
presidente da República e tem demonstrado uma inacreditável inépcia no
exercício das funções de primeira mandatária. Mas uma análise
conjuntural que amplie o foco de observação da cena política para além
dos episódios do dia a dia e se projete sobre os 12 últimos anos expõe à
luz o protagonista oculto, o ardiloso responsável maior pela tentativa
de reinventar o Brasil - aventura que hoje custa caríssimo para cada um
dos brasileiros: Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma das conhecidas habilidades políticas de Lula é desaparecer de cena,
procurar as sombras, fingir-se de morto para o grande público quando o
perigo ronda. Exatamente como está fazendo no momento. Outra é só dizer o
que sabe que as pessoas querem ouvir. Faz isso desde os tempos em que
frequentava o palanque sindical da Vila Euclides, no ABC. Outra ainda é
ser um mestre em salvar aparências, mantendo, além de uma linguagem
convenientemente popular, a pose de "homem do povo" que mora num modesto
apartamento em São Bernardo, quando passa a maior parte do tempo voando
de primeira classe ou em jatos executivos e hospedando-se em hotéis
cinco-estrelas ou em mansões de amigos milionários.
Ao longo de mais de 20 anos na oposição "a tudo o que está aí", Lula
conduziu o PT na tentativa de impedir a aprovação, entre outras, de
iniciativas de importância histórica como a Constituição de 1988, o
Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o programa de
desestatização da telefonia que permitiu que praticamente todos os
brasileiros disponham hoje de um telefone celular. E, depois de perder
três eleições presidenciais consecutivas, chegou à conclusão de que
precisava abandonar as velhas bandeiras para conquistar o poder,
chegando ao Palácio do Planalto em 2003 graças à profissão de fé liberal
contida na oportunista Carta aos Brasileiros.
Na presidência, com Antonio Palocci na Fazenda, garantindo a observância
dos fundamentos econômico-financeiros lançados no governo FHC e uma
competente retórica populista, Lula navegou nas ondas da conjuntura
internacional favorável e desenvolveu programas nas áreas econômica e
social, cuja repercussão o levou à imodesta convicção de que se havia
transformado em grande estadista.
Na segunda metade do primeiro mandato Lula enfrentou um primeiro grande
desafio: o escândalo do mensalão, assalto aos cofres públicos urdido e
chefiado pelo então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, com o
objetivo de consolidar o "presidencialismo de coalizão", com a compra do
apoio de parlamentares, e o levantamento de recursos para financiar as
atividades do PT. De início, dizendo-se ignorante da trama armada sob
suas barbas, Lula mostrou-se indignado e declarou que o PT deveria se
desculpar com os brasileiros. Seu projeto de reeleição em 2006 ficou
seriamente ameaçado. Mas, com a ajuda da popularidade em alta, oposição
tíbia, indicadores econômicos positivos e projetos sociais relevantes e
devidamente propagandeados, Lula foi reconduzido ao Planalto.
Com a bola cheia, passou a negar a existência do mensalão e continuou
solidarizando-se com a companheirada envolvida no escândalo. Enquanto
isso, já corria solto o esquema sucessor do mensalão, o do propinoduto
da Petrobrás. Era apenas uma das facetas, talvez a mais sórdida, da
privatização do Estado por meio da colocação do governo a serviço do
projeto de poder do PT. E, mais uma vez, é impossível de acreditar que o
presidente da República ignorasse o que se passava.
Diante da impossibilidade de um terceiro mandato, Lula tratou de
selecionar a dedo seu sucessor. Dilma, a "gerentona", a "mãe do PAC",
parecia a escolha perfeita. Mas já no primeiro ano de governo ela teve
um assomo de autossuficiência ao promover uma "faxina" no Ministério que
em boa parte herdara de seu mentor. Desde então Lula vem tendo
dificuldades cada vez maiores para controlar a pupila. Foram quatro anos
de dilapidação, não só da economia nacional, mas principalmente da
moral e dos bons costumes na Administração Pública e na política. Essa
razzia se deve à ação e omissão de Dilma. Mas quem armou o projeto de
poder baseado na imoralidade e escalou a sucessora foi Lula. Cabe-lhe,
portanto, prioritariamente, a culpa por "tudo o que está aí".
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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