por Merval Pereira
A
presidente Dilma terá grandes problemas pela frente por que a esquerda
do PT e os sindicalistas já começam a se movimentar tanto contra Joaquim
Levy quanto contra as medidas de contenção de custos dos benefícios
sociais. Ao mesmo tempo, também o PSDB saiu ao ataque contra as novas
medidas de contenção, acusando o governo de estar traindo seus eleitores
e classificando de “neoliberalismo petista” as medidas anunciada.
A
questão central é que mexer em valores que são importantes para
trabalhadores e sindicalistas dá a sensação de que o governo está
traindo seus eleitores, ao mesmo tempo que dá margem a que o PSDB assuma
uma maneira petista de fazer oposição.
Mas
na verdade o governo está fazendo o que tinha que fazer mesmo, há
distorções no seguro desemprego, no sistema de pensões, e em diversos
outros mecanismos de benefícios sociais, é necessário, mas desgastante,
dar uma controlada nisso. A ideia é economizar cerca de R$ 18 bilhões
por ano, o que não é pouca coisa para um país que está precisando
desesperadamente cortar custos.
Mas
mexe com interesses de sindicalistas, que já estão muito agitados, e
com políticos também. Até setores do PMDB estão questionando as medidas,
chamando a atenção para o fato de que o governo começa a cortar custos
pelos trabalhadores, e não pelos gastos excessivos da máquina
governamental.
A
esquerda do PT está se sentindo afastada da composição desse segundo
ministério da presidente Dilma, e acha que a direita tomou conta do
governo. Há setores da esquerda, dentro e fora do PT, que não apoiam a
presidente por estar tomando medidas que criticava nos seus adversários
na campanha eleitoral, e este é um fato que denota a incongruência de um
governo que tem que abandonar suas crenças ideológicas na economia para
reverter uma situação desastrosa que ele mesmo criou.
Dilma
está tomando medidas que mudam a direção que apontou nos discursos
durante a campanha eleitoral, mas não são medidas “de direita”, como
equivocadamente apontam seus críticos internos, mas medidas necessárias
para recuperar o equilíbrio das contas públicas.
Ao
que tudo indica, teremos pela primeira vez um déficit fiscal ao final
deste 2014, pois para chegarmos a um superávit de R$ 10 bilhões
anunciado pelo (ainda) ministro Guido Mantega teríamos que ter um
superávit de quase R$ 30 bilhões em dezembro, o que é inviável a esta
altura, pelo menos sem malabarismos fiscais.
Dilma
já anunciou que vai abrir o capital da Caixa Econômica para
investimentos privados e precisa fazer isso mesmo por que o governo não
tem dinheiro. O problema da presidente Dilma é que ela não terá o apoio
nem de seu partido, o PT, já liberado pelo ex-presidente Lula para
críticas, e nem dos movimentos sociais, que ao contrário estarão
mobilizados numa ação conjunta de Lula com os líderes sindicais para ir
para as ruas defender os interesses da esquerda.
Isso
quer dizer que a pretexto de defender o governo do ataque da “direita”,
esses movimentos sociais estarão indo contra setores que estão
encastelados no ministério de Dilma, como Gilberto Kassab, do PSD, que
no ministério das Cidades terá que dialogar Guilherme Boulos, do
Movimento dos Sem Teto, o novo enfant terrible da esquerda brasileira.
A
futura ministra da Agricultura, Kátia Abreu, também terá que se
confrontar com João Pedro Stedile e o MST, que prometeu guerra nas ruas
caso Aécio Neves vencesse a eleição, e vê a presidente da Confederação
Nacional de Agricultura como uma inimiga tão grande quanto o candidato
tucano, com o agravante de estar dentro do governo.
Ao
lado disso, o governo não contará com o apoio da oposição, ao contrário
do que aconteceu no início do primeiro governo Lula. A Força Sindical,
que apoiou Aécio Neves na eleição presidencial, se juntará aos demais
sindicatos ligados ao PT para combater as mudanças nas regras de concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários, que considera nocivas aos trabalhadores.
A
Força Sindical toca num ponto nevrálgico: o país vive expectativa de
aumento de desemprego, de inflação e dos juros, e as novas medidas serão
adotadas nesse novo ambiente econômico de crise.
O
PSDB está disposto a ser oposição até mesmo ao ministro da Fazenda
Joaquim Levy, que veio de suas hostes. O deputado Antonio Imbassahy já
deu a direção ao dizer que as medidas anunciadas representam o
“neoliberalismo petista, que provocará desemprego e prejudicará os
trabalhadores”.
O próprio presidente do PSDB, senador Aécio Neves, soltou uma nota afirmando que a
presidente “faz agora o impensável: coloca em prática as suas medidas
impopulares, prejudicando aqueles que deveriam ser alvo da defesa
intransigente do seu governo: os trabalhadores e os estudantes".
O embate será duro e incessante, e a presidente Dilma não parece estar equipada politicamente para enfrentá-lo.
fonte rota2014
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