Marco Antônio Villa: IstoE
A República está podre. Deu o que tinha de dar. É o momento final de uma
estrutura de poder que não mais responde às necessidades nacionais. Ao
longo da história republicana tivemos momentos de ruptura, como em 1930,
1964 ou, em menor escala, em 1985. Agora a crise adquire outro perfil.
Pela primeira vez vivemos sob a égide de uma Constituição plenamente
democrática. E que enfrentou dois processos de impeachment em apenas um
quartel de século. Mas nunca, por paradoxal que pareça, a corrupção
esteve tão presente nas entranhas do poder, como agora.
O Estado democrático de Direito, ao invés de garantir o exercício pleno
da cidadania, acabou se transformando em apanágio para os corruptos. A
estrutura legal foi instrumentalizada em favor daqueles que
transformaram a coisa pública em coisa privada. E contou com uma ampla
base de apoio na praça dos Três Poderes, símbolo maior da ineficácia das
instituições republicanas.
Os acontecimentos que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff abriram
um leque de possibilidades. A tradição nacional, infelizmente, é de
encontrar soluções superficiais, sem ir ao âmago dos problemas, evitando
uma cesura institucional mais profunda. Em outras palavras, é a velha
conciliação, que impede a constituição plena do novo e preserva, na
ordem recém-nascida, a maior parte das antigas mazelas, agora sob nova
roupagem. Dessa vez, devido ao esgarçamento das instituições
e da participação inédita da sociedade civil na esfera política, abriu-se a possibilidade de – finalmente! – caminharmos rumo a uma sociedade democrática, republicana e com sólidas instituições sob controle dos cidadãos.
e da participação inédita da sociedade civil na esfera política, abriu-se a possibilidade de – finalmente! – caminharmos rumo a uma sociedade democrática, republicana e com sólidas instituições sob controle dos cidadãos.
“Nunca, por paradoxal que pareça, a corrupção esteve
tão presente nas entranhas do poder, como agora”
tão presente nas entranhas do poder, como agora”
A contradição principal é que a velha ordem ainda detém o controle da
máquina estatal. As concessões dos donos do poder chegaram ao limite,
como no julgamento de Dilma Rousseff. Esperar que avancem em direção aos
reclamos democráticos
da sociedade civil é absoluta ingenuidade. Aí está o nó górdio. Mas como desatá-lo?
da sociedade civil é absoluta ingenuidade. Aí está o nó górdio. Mas como desatá-lo?
Nada indica que a crise institucional encontre solução à curto prazo.
Haverá uma recuperação econômica, ainda que tímida e muito aquém das
potencialidades nacionais. Alguns figurões da República irão para a
cadeia. Em uma ou outra fração do aparelho estatal poderá ocorrer
reformas. Contudo, a essência do problema vai permanecer.
extraídaderota2014blogspot
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