Editorial do Estadão
O governo do lulopetismo – sem apoio popular e
político, completamente perdido na crise em que afundou o país,
atirando a esmo e apelando aos recursos retóricos mais risíveis na
tentativa desesperada de impedir que o naufrágio se consuma num mar de
soberba, sectarismo, contradições, incompetência e incúria – não para de
chocar o país com a despudorada exposição de sua triste figura. Coube
agora ao ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da
Presidência, Edinho Silva, meter os pés pelas mãos, em entrevista a O Globo, ao tratar de questões essenciais como o ajuste fiscal e o Orçamento da União para 2016.
Para começar,
questionado sobre o orçamento deficitário que Dilma encaminhou ao
Congresso, o ministro tentou atribuir à iniciativa elevadas intenções
estratégicas, afirmando que a presidente “está na verdade abrindo um
debate, que é mais do que de ajuste fiscal, é sobre modelo de
financiamento do Estado brasileiro”. E acrescentou, mais adiante: “Se
nós não entrarmos na agenda das reformas do Estado, nós não vamos
equacionar definitivamente os problemas”. Ou seja, mais de 12 anos e
meio depois de assumir o poder, os petistas estão finalmente entendendo
que até agora não fizeram nada para, pelo menos, “abrir um debate” sobre
a “agenda das reformas do Estado”. Segundo Edinho Silva, portanto,
Dilma Rousseff está mais preocupada, no momento, em reformar o Estado do
que com o ajuste fiscal necessário para consertar a lambança que
promoveu nas contas do governo. Tarefa assaz desafiadora para quem não
consegue nem ao menos cumprir a obrigação elementar de pagar contas.
E para confirmar que para o lulopetismo há
questões muito mais relevantes a tratar do que o ajuste fiscal, o
ministro garantiu, quando lhe perguntaram como Lula teria reagido à
ideia do orçamento deficitário: “O presidente Lula está muito preocupado
com a retomada do crescimento econômico. Ele sabe que mais importante
do que a gente ficar discutindo o ajuste é a gente discutir
imediatamente a retomada do crescimento”. E apressou-se a acrescentar,
antes que fosse mal interpretado: “Essa é a preocupação dele e da
presidenta Dilma”. E concluiu, como sempre, sem pensar muito no que
estava dizendo: “Mais importante que nos afundarmos no debate do ajuste é
começar a discutir a retomada do crescimento e a reforma do Estado”.
Essa profunda imersão na filosofia quântica – disciplina acalentada pelo
tesoureiro de Dilma quando não está contando caraminguás – explica
finalmente a sua misteriosa afirmação de que “o governo não tem plano
B”. É que não tem um plano A.
Se antes faltava alguém para explicar a Lula, a
Dilma e também a Edinho Silva que uma coisa é uma coisa e outra coisa é
outra coisa, agora é preciso entronizar essa difícil verdade na cabeça
do ministro: o ajuste fiscal é uma precondição essencial à viabilização
de qualquer iniciativa sustentável na área econômica. Se não fosse, o
governo não precisaria se preocupar com o assunto e poderia continuar
empurrando o problema com a barriga. O ministro, no entanto, cedeu à
tentação de embarcar na conhecida vocação lulopetista de recorrer a
arroubos de retórica quando não tem respostas claras para questões
objetivas. Mas isso não é culpa dele, e sim de quem o colocou em função
muito distante de suas reais e importantes qualificações. É óbvio que é
“importante”, como afirma Edinho Silva, atacar uma agenda de reformas
institucionais e programáticas prioritárias. Mas o PT teve mais de 12
anos para se preocupar com isso e, até agora, permanece apenas
preocupado.
A verdade é que, diga-se pela enésima vez,
Dilma está num beco sem saída. Tem extrema dificuldade para negociar com
o Congresso as medidas minimamente eficazes para promover o reajuste
fiscal. Mesmo com todos os descontos devidos à óbvia e ostensiva má
vontade de Eduardo Cunha na Câmara e às tergiversações maliciosas de
Renan Calheiros no Senado, o clima no Parlamento é claramente
desfavorável à aprovação da maior parte das propostas apresentadas por
Dilma Rousseff, primeiro porque são ruins e inadequadas e, depois,
porque é ela quem as está apresentando.
Considerando que no pacote de ajuste fiscal,
no qual se inclui a CPMF rebatizada de CPPrev, apenas uma medida depende
exclusivamente de decisão presidencial, Dilma está condenada a
permanecer refém do Congresso até que alguém surja com uma ideia que
acabe com esse impasse.
extraídadacolunadeaugustonunesopiniaoveja
0 comments:
Postar um comentário