por Vinicius Mota Folha de São Paulo
Os companheiros vinham malhando todo ensaio de medida restritiva adotado
por seu próprio governo. Na Argentina, 11 dias atrás, Lula condenou o
ajuste fiscal.
Preservar a conduta dúbia seria ideal para o lulismo. Manter-se-ia
desobstruído o escape de emergência, em caso de impeachment, para um
período de recolhimento de cacos em que tudo seria terrível para o PT,
menos a faculdade de discursar como vítima de "golpismo", na oposição a
um governo também obrigado a conduzir ações impopulares.
A renúncia da presidente, contudo, anularia até mesmo esse prêmio de
consolação ao petismo. Como posar de injustiçado se a criatura
voluntariamente desistir de governar? Como opor-se de corpo e alma a
algo que terá sobrevindo diante da assunção incontestável de
incapacidade?
Lula despenhou-se para Brasília quando começou a cair a ficha de que a
renúncia poderia ser uma atitude de rebelião de Dilma contra o
progressivo isolamento imposto pelo seu criador. O ex-presidente engoliu
tudo o que dissera –como de hábito– e cerrou fileiras com o esfolamento
tributário da população, proposto por um palácio atarantado.
Para o enredo de saída do PT, Dilma precisa ser a mártir do impeachment.
A presidente decifrou o jogo e chacoalhou a seu favor a bandeira da
renúncia, embora ainda não tenha chegado ao ponto em que abandonar o
cargo passa a ser uma cogitação diária do governante acuado.
Quando essa fase começa, o verbo renunciar deixa de ser conjugado apenas
na voz ativa. O mandatário, mais ou menos como o paciente terminal
diante do suicídio assistido, pondera se é melhor "ser renunciado" e
evitar humilhação maior.
extraídaderota2014blogspot
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