editorial de O Globo
Retirada, pelo STF, de acusação contra a senadora petista Gleisi Hoffmann do âmbito do petrolão indica mudança de postura em relação ao julgamento do mensalão
A expectativa era que o peso do Supremo na tramitação da Lava-Jato
aumentaria à medida que a Procuradoria-Geral da República encaminhasse
mais nomes com foro privilegiado à Corte, para a instauração, ou não, de
processos. O papel do STF, porém, cresceu nos dois últimos dias, a
partir de uma discussão que parecia trivial. Tratava do destino das
acusações à ex-ministra e senadora petista (PR) Gleisi Hoffmann de se
beneficiar de recursos desviados de um contrato assinado entre o
Ministério do Planejamento, quando lá estava o marido de Gleisi, o
também petista Paulo Bernardo, e a Consist, em torno de empréstimos
consignados.
No entendimento da força-tarefa do Ministério Público que trabalha em
Curitiba junto ao juiz Sérgio Moro, o assunto é parte da Lava-Jato por
ter relação com os esquemas de operação financeira subterrânea do
petrolão. A própria Gleisi já havia sido citada na delação premiada do
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa como beneficiária de desvios
de dinheiro da estatal.
Mas, na terça, em sessão da segunda turma do STF, responsável pela
Lava-Jato, o relator que trata do tema na Corte, ministro Teori
Zavascki, teve o apoio dos colegas Dias Toffoli e Cármen Lúcia na tese
da desvinculação do processo do caso Lava-Jato. Gilmar Mendes se opôs, a
divergência foi para o plenário, ontem, e, por maioria de votos — a
Gilmar Mendes se juntaram apenas Celso de Mello e Luís Roberto Barroso
—, o processo foi desvinculado do petrolão. Assim, quem, envolvido no
caso, não tem foro privilegiado sai da jurisdição do juiz Sérgio Moro.
Para o MP, abriu-se a porta para o fatiamento da Lava-Jato, com grandes
riscos para toda a Operação. Assim, por exemplo, propinas que tenham
tramitado pelo mesmo esquema financeiro clandestino de Alberto Youssef e
outros, e mesmo com as digitais de Vaccari, poderão sair da Justiça de
Curitiba (Moro), se a origem do dinheiro não for a Petrobras. E, no STF,
haverá o risco de serem desvinculadas de um esquema mais amplo. Ao
divergir da maioria, ontem no plenário, Gilmar Mendes alertou para o
fato de estar sob investigação uma grande “organização criminosa”,
responsável por desvios não apenas na Petrobras. E é fato, basta
constatar que as mesmas empreiteiras do petrolão aparecem no escândalo
da Eletronuclear.
O Supremo passa a tratar o petrolão de forma diversa do mensalão,
quando, constatado que havia uma única “organização criminosa”, réus com
e sem foro privilegiado foram julgados em grupo no STF. Lembre-se que a
primeira ação da defesa dos mensaleiros foi defender o desmembramento.
Não conseguiu, e as condenações fortaleceram a imagem da Justiça.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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