por Vinicius Torres Freire Folha de São Paulo
Os vizinhos fazem festa com barulho exagerado até altas horas. Chegam a
polícia e o Samu. O pessoal joga substâncias suspeitas no ralo, leva uma
dura e os paramédicos dão assistência aos mais prejudicados. A festa
acaba, a turma se acalma, uns tomam glicose. Mas os motivos de animação
continuam. Polícia e remédio, um dia, podem não bastar.
Em termos rudes, foi mais ou menos isso que se passou ontem no mercado,
dia de dólar variando entre R$ 4,24 e R$ 4, de taxas de juros que não
subiram mais porque bateram no teto regulamentar da Bolsa e, depois,
porque tomaram um sossega-leão. O Banco Central ameaçou derrubar, na
marra, exageros no dólar. O Tesouro tomou medidas para segurar as taxas
de juros na praça e, assim, também ajudou a curar as feridas de quem
havia se arrebentado com alta recente dos juros, o que ajudava a
empestear o ambiente.
Enfim, não se pode desprezar o fato de que a coisa se acalmou aqui também porque o tumulto no mercado mundial também diminuiu.
O risco de investir no Brasil sobe desde que o governo passou a dar
sinais de que jogara a toalha, de que não pretendia ou seria capaz de
controlar o aumento da dívida, evidentes no final de julho. Desde a
semana passada, o risco desembestou, acelerado pelo desastre político
doméstico e pelo tumulto causado pela indefinição dos juros americanos.
Risco crescente, na prática, significa juros e dólar em alta, cada um ajudando o outro a dar saltos.
Alexandre Tombini, presidente do BC, saiu-se bem ontem no papel de xerife. Ele e/ou seus diretores avisaram que:
1) O Banco Central não vai aumentar as "suas" taxas de juros, não vai
chancelar a projeção de alta em tese embutida nas taxas do mercado, que
não se renderia à extravagância (talvez) temporária dos donos do
dinheiro;
2) Se necessário venderia dólares das reservas;
3) Agia em acordo com o Tesouro, que daria um jeito de derrubar excessos nas taxas de juros no mercado;
4) Afora problema maior, a taxa de juros continua na mesma por tempo
"prolongado" porque o BC considera que a inflação vai diminuir, mesmo
com a alta do dólar, que não será tão repassada aos preços devido à
recessão profunda o bastante para compensar o efeito desvalorização do
real;
5) O pânico atual decorre do descrédito na política fiscal;
6) Sem perspectiva de contenção do buraco nas contas do governo, o BC
não vai ser capaz de levar a inflação à meta em 2016, com acreditava
pelo menos até julho;
7) Segundo testes do BC, mesmo com as exorbitâncias desta semana, os bancos aguentam o tranco;
8) Não há problemas nas contas externas ou fuga de capitais.
A mensagem do BC foi repetida a mercado e mídia, com argumentos disciplinadamente semelhantes.
A princípio, pelo menos é arriscado testar a determinação do BC, que
funciona. Isto é, tende a funcionar no curto prazo, se as ameaças não
parecem vazias, se eventuais medidas de emergência não se tornam rotina e
desde que problemas de fundo comecem a ser resolvidos.
O Tesouro comprou títulos (da dívida do governo), para acalmar a praça
(com o que o preço dos papéis sobem, os juros caem). Anunciou um
programa de compras diárias até a semana que vem, o que deve conter
juros e colocar alguma ordem nos preços do mercado.
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