por Pedro Luiz Passos Folha de São Paulo
A persistência do ambiente de indefinição política, somada à crise
econômica cada vez mais profunda, tem provocado uma destruição em massa
do valor dos ativos brasileiros. Segundo a consultoria Economática, as
companhias listadas na BM&FBovespa perderam US$ 1 trilhão em valor
de mercado entre abril de 2011 e setembro de 2015.
Não se trata de simples variação contábil ou de perdas que afetam apenas
o mundo corporativo, o que já seria motivo para preocupação, sendo as
empresas as principais responsáveis pela arrecadação tributária, pelos
empregos e pelos investimentos. Esses números apontam que parte
relevante da riqueza nacional se evaporou nos últimos anos e, com ela, a
confiança dos brasileiros.
O derretimento dos ativos coloca em ação uma engrenagem perversa, que,
nos movimentos subsequentes, acentuará o desemprego e a retração do já
frágil fluxo de investimentos. Ou seja, a conta está alta e, se nada for
feito, pode ficar maior.
Os efeitos já se manifestam com vigor, mas sem a dimensão que tende a
ganhar corpo em 2016. A taxa de desemprego foi a 8,3% no segundo
trimestre, ante 6,8% no mesmo período de 2014, e tem viés ascendente.
Como em outros períodos de recessão, o esgarçamento do emprego atingirá,
na próxima etapa, a renda, que vinha sendo preservada pelos ganhos
reais dos acordos salariais e pela pujança no mercado de trabalho. Isso
deixou de existir.
Diante de tal cenário, não há o que esperar. Com a retração econômica e o
imbróglio político se alimentando mutuamente, já passa da hora de se
adotar o único caminho exequível para enfrentar a crise: a abertura de
um diálogo franco e transparente entre as principais lideranças do país
para buscar consensos mínimos capazes de romper os impasses que
paralisam as decisões e angustiam a sociedade.
Não será, porém, o velho e desgastado método de buscar acordos ou trocas
com representações políticas de baixa estatura que trará a legitimidade
necessária para alcançar a aprovação da sociedade a essa nova agenda.
Sem esse nível de entendimento, qualquer esforço no campo econômico
estará condenado ao fracasso, aprofundando o caos ora instalado no país.
Isso envolve Congresso, Executivo e todos os líderes genuinamente
preocupados com o futuro turvado por uma crise que nem sequer deveria
existir.
É momento de revisar, antes de criar impostos e elevar alíquotas, a
parafernália de subsídios e desonerações, assim como passar a estrutura
do Estado por um pente-fino, em que o objetivo não seja apenas a redução
de custos, mas o aumento de eficiência e produtividade.
A agenda mínima deve contemplar medidas que ofereçam perspectivas para
estabilizar as contas públicas, ao mesmo tempo em que preservem a rede
de proteção social contra os efeitos deletérios da recessão.
Tal sinalização torna possível restaurar a confiança e, por tabela, o
crescimento da economia. O horizonte empresarial desanuviado e a
política apaziguada são condições para se desobstruir entraves
estruturais, como o deficit da Previdência, que carece de regras
atualizadas à realidade demográfica, a reforma tributária e a revisão da
legislação trabalhista, além de maior aproximação com a economia
internacional.
Ainda que antiga, essa agenda continua na ordem do dia. Ela não avançará
sem que o cenário de curto prazo se altere profundamente. Gestos claros
para essa construção é obrigação que os governantes não podem mais
adiar, mostrando-se à altura da gravidade da crise e capazes de resolver
a confusão criada por eles mesmos.
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