Murilo Rodrigues Alves e Adriana Fernandes - O Estado de São Paulo
Apesar de ter prometido não mexer em programas sociais, Dilma se viu obrigada a reduzir gastos na previsão de orçamento do ano que vem
A presidente Dilma Rousseff cortou R$ 25,5 bilhões dos gastos com
programas sociais previstos em 2016, em relação ao orçamento deste ano,
segundo levantamento feito pelo ‘Estado’ com números oficiais do
Ministério do Planejamento. A tesourada atingiu até mesmo a construção
de creches, unidades básicas de saúde e cisternas. A maior redução de
aportes foi justamente em “vitrines” da gestão petista, como
investimentos sociais do PAC, Minha Casa Minha Vida e Pronatec.
Durante a campanha e no início do segundo mandato, Dilma repetiu à
exaustão que “em hipótese alguma” cortaria recursos dos programas
sociais criados pela gestão petista. Mas foi obrigada a abrir mão da
promessa para tentar recuperar a confiança dos investidores na economia
brasileira. Se somados os cortes adicionais em projetos do PAC que ainda
não estão definidos, mas que também atingirão a área social, o
enxugamento em 2016 pode chegar a R$ 29,34 bilhões.
O corte dos programas expõe a contradição que vive a presidente e seus
ministros nesse cenário de crise econômica e política. Por um lado,
precisa provar que o governo está “cortando na carne” para garantir o
esforço fiscal, como cobram parlamentares, economistas e empresários. No
entanto, com a popularidade na mínima histórica e em meio a protestos e
greves promovidos pelos movimentos sociais, evita falar sobre o
sacrifício em programas sociais, bandeira de sua campanha à reeleição
presidencial.
Cortes.O
tamanho do corte nos programas sociais corresponde a 74% do superávit
primário – economia para o pagamento dos juros da dívida – prometido
pela União em 2016: R$ 34,44 bilhões. Para o economista Mansueto
Almeida, especialista em finanças públicas, a presidente não teve outra
saída, mesmo que tenha preferido adotar um “corte envergonhado”.
“O governo tem vergonha de mostrar que está cortando em programas
considerados ‘vacas sagradas’. Por isso, fica a impressão ao Congresso e
ao mercado que o corte tem sido tímido”, afirmou. Por outro lado,
avalia Mansueto, mesmo com os cortes nesses programas, o orçamento
engessado inviabilizará o cumprimento da meta estipulada para o ano que
vem.
O corte nesses programas alimenta a briga dos gabinetes na Esplanada dos
Ministérios na disputa de quem perde menos. A presidente tentou
resistir à pressão, mas acabou cedendo, admitem interlocutores. “O ponto
central é que os programas sociais se tornaram insustentáveis”, avalia
Murillo de Aragão, cientista político da Arko Advice.
“Os programas não acabaram, vão continuar existindo, mas nos próximos
anos rodarão em ritmo mais lento diante da frustração de receitas. Por
mais que haja redução no ritmo, não deixaremos de atender à população”,
rebate a secretária de Orçamento do Ministério do Planejamento, Esther
Dweck. Ela frisou que esses programas não existiam antes da gestão
petista.
Exceções. O
único dos programas sociais em que não houve corte no orçamento de 2016
na comparação com o deste ano foi o de financiamento estudantil. O
aumento de 5,5% de um ano para outro não significa, porém, que o Fies
não tenha sido reavaliado. O resultado do endurecimento das regras de
acesso ao programa somente terá impacto nos próximos anos.
As tesouras só não atingiram mesmo o Bolsa Família, que manteve o
orçamento de R$ 28,8 bilhões em 2016, o equivalente a 2,4% das despesas
totais da administração federal.
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