por Vitor Hugo Soares Com Blog do Noblat - O Globo
As orquestras (são várias e barulhentas) tocam alto “pra polícia não manjar”, mas é inútil. E o reboliço é mais intenso e nervoso na casa da mandatária - corredora de bicicleta do Planalto nas horas vagas - que na oscilante e quase modorrenta Bovespa . Salvo os sustos das variações violentas na cotação do dólar e das quedas incontroláveis das ações da Petrobras, fonte de riqueza e orgulho nacional corroída “pela ditadura da propina” (curta e mais que perfeita definição do jurista Miguel Reali Jr) por corruptos e corruptores, públicos e privados, de máscaras ou capuzes arrancados pela Operação Lava Jato.
Multiplicam-se os palpites e as especulações sobre a crescente e veloz perda de prestígio e relevância do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, acompanhados dos ruídos sobre a sua queda (ou manutenção), e os inevitáveis fuxicos sobre nomes do (a) provável substituto (a) no cobiçado gabinete do Palácio do Planalto, apesar da má fama de ter-se transformado em usina de queimações e crises políticas e administrativas nos anos de domínio petista.
São emblemáticas, no particular, as previsões opostas colhidas nos bastidores, de dois dos mais lidos e bem informados colunistas políticos (repórteres furadores da melhor cepa) do jornalismo político brasileiro. Ambas abrigadas no portal G1, de O Globo: Aloízio Mercadante sai da Casa Civil, diz Cristiana Lobo, na Globo News. Aloízio Mercadante fica, afirma Camarottii, no mesmo canal privado de televisão.
“Coisas de um tempo em que a cabra não reconhece o filhote cabrito”. Diriam os sábios mineiros da política na época de seu Laio, personagem notável de Guimarães Rosa na novela “A volta do marido pródigo”, de Sagarana; ou o arguto Tancredo Neves, se vivo estivesse. Um cenário bem parecido, também, com o descrito no samba famoso Piston na Gafieira, de Billy Blanco.
Enquanto o duro Mercadante vai não vai, é bom dar uma olhada em volta do salão. Observar os modos e atitudes dos principais personagens que dançam agarradinhos, daqueles que procuram briga, ou dos que simplesmente circulam ou fazem rondas periódicas no lugar.
À exemplo do ex-presidente Lula, que voltou a Brasília na quinta-feira (17), repentinamente, pela primeira vez desde o lançamento do novo pacote de ajuste fiscal, com CPMF e tudo. Ele levou uns dias fazendo fita, “costeando o alambrado” (a expressão feliz é de Leonel Brizola), ciscando no terreiro peronista da Argentina, em campanha no palanque presidencial de André Sciolli, o candidato do peito da presidente Cristina Kirchner à sua sucessão. Ela empenha o canavial da sogra para manter o mando do clã dos Kirchner na Casa Rosada. Antes de voltar, Lula deu uma passada pelo Paraguai, para mais uma rodada de proselitismo político na base do “não tenho nada com isso”.
No reencontro com a afilhada, no Alvorada, porém, o ex-presidente, fundador do PT, principal líder do partido no poder há 13 anos, mostrou as garras que - mesmo desgastadas pelos mais recentes episódios da Lava Jato que lhe tiram o sossego - , ainda arranham e ferem. Revelou, ao mesmo tempo, não ter perdido o interesse pelo palácio, e que anda ligado, de olho no jogo pesado em curso no planalto central. Em especial, na reforma administrativa que Dilma deve anunciar até o dia 30, antes de embarcar para New York, onde fará o discurso de praxe na abertura de mais uma Conferência Anual das Nações Unidas (ONU).
Pelo relato publicado no Estadão (assinado por Vera Rosa), Lula recomendou a Dilma que faça uma reforma ministerial mais ampla para garantir sustentação política e evitar o processo de impeachment. Foi direto ao ponto: pediu à mandatária (como no tempo dos antigos barões ou velhos coronéis da política brasileira, que aumente o espaço dos aliados “fiéis” e reduza os cargos dos “traidores”. Muitas orelhas arderam na madrugada de quinta-feira em Brasilia, e algumas seguiam pegando fogo sabado (19).
Principalmente ao lembrar: antes do novo e inesperado desembarque de Lula para a conversa no Alvorada, o jornal espanhol El Pais jogou mais álcool no fogo, ao revelar que a “bolsa de aposta” em Brasília coloca a atual ministra da Agricultura Katia Abreu, a ruralista do governo petista, como uma das favoritas de Dilma para substituir o petista Mercadante no gabinete vizinho ao da mandatária, que assim daria espaço ao rebelde PMDB.
O outro pretendente é o ministro da Defesa, Jaques Wagner, ex-governador da Bahia. Petista histórico do peito de Lula, que perde fôlego e força a olhos vistos no governo, como o Rio São Francisco à míngua, antes da transposição, ou a própria Bahia no governo de Rui Costa, o afilhado de Wagner. O resto, a conferir.
extraídade rota2014blogspot
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