por Carlos Alberto Sardenberg O Globo
Quem disse para a presidente Dilma que não teria nada demais apresentar um orçamento com déficit?
Quase
todo mundo concorda: enviar ao Congresso um Orçamento com déficit
previsto para 2016 — no momento em que as agências de classificação de
risco estavam de olho na capacidade do governo de controlar suas contas —
não foi apenas um erro. Foi monumental.
Por causa dessa manobra infeliz, o Brasil perdeu o grau de investimento na Standard & Poor’s e pode ser rebaixado também por outras agências. Ora, quanto tempo levaria para recuperar o grau de investimento?
Por causa dessa manobra infeliz, o Brasil perdeu o grau de investimento na Standard & Poor’s e pode ser rebaixado também por outras agências. Ora, quanto tempo levaria para recuperar o grau de investimento?
Três anos, se o país fizer tudo certinho, rápido e tiver bases
econômicas boas; uma década se o rebaixamento o tiver apanhado em más
condições gerais, inclusive políticas.
Tal é o resultado de pesquisa feita pela economista Julia Gottlieb, do departamento de estudos do Itaú.
O Brasil está no segundo grupo, pois cai no grau especulativo com dívida
bruta passando dos 70% do PIB (deveria ser menos de 40%), inflação bem
acima da meta e baixo nível de poupança.
Assim, o governo e as empresas brasileiras poderão ficar muitos anos
pagando juros mais caros para obter financiamento externo e tendo acesso
limitado aos mercados. Logo, menos investimentos, menos negócios, menos
empregos.
Esse o tamanho do erro. O próprio governo o reconheceu e saiu com um
programa empacotado às pressas para anunciar um superávit (duvidoso)
para o ano que vem.
Ora, de quem foi a ideia original? Quem disse para a presidente Dilma
que não teria nada demais apresentar um orçamento com déficit?
Sim, é importante saber, pois esse gênio não poderia continuar no governo.
Reparem: há um problema de credibilidade. As agências, os mercados, as
pessoas desconfiam da sinceridade e da capacidade do governo de fazer o
ajuste das contas. Se no cérebro (?) da administração tem um quadro que
pensou tão errado — e continua lá — está claro que se perde ainda mais
credibilidade.
Os primeiros suspeitos são os ministros Aloizio Mercadante, da Casa
Civil, e Nelson Barbosa, do Planejamento. Todo mundo sabe que o ministro
Joaquim Levy lutou contra essa mancada até o último momento.
Mas permanece nos meios econômicos e políticos uma ponta, enorme ponta
de dúvida. E se a desastrada ideia tiver sido da própria presidente
Dilma?
Dirão, que saia Dilma. Mas não é assim que cai uma presidente eleita.
Mas ficando, por quanto tempo for, a presidente ao menos deveria tentar
recuperar sua capacidade de administrar a política econômica. Nesse
caso, já está devendo duas desculpas: uma pelos estragos do primeiro
mandato; outra, pelo orçamento com déficit, mesmo que tenha sido ideia
de outro. Ela pegou, não é mesmo?
Aliás, se ela não demitiu ninguém por causa disso, é um sinal. Talvez não tenha desejado cometer injustiças.
E se foi um auxiliar, não seria razoável esperar algo como “Foi mal, desculpaí, já estou vazando?”
BUENOS AIRES
De um fim de semana na capital argentina:
Nos caixas automáticos, não se pode sacar em dólares, só em pesos. Nos
hotéis e restaurantes, também não há mais preços em dólares, apenas em
pesos. E o pessoal não aceita pagamento em dólares, pelo menos não nos
estabelecimentos formais.
Em resumo: tanto pra pessoas como para empresas, é muito difícil comprar
dólares, seja para pagar importações, seja para poupar — como antes
faziam os argentinos.
Depois de anos de moratória, há escassez de dólares no país.
E tiveram mesmo que dificultar as compras de moeda estrangeira pelos
residentes. “Se não fosse assim, ninguém ficaria com os pesos”, conta um
amigo.
Por outro lado, nesses locais que recebem estrangeiros, o pessoal
explica: a cotação oficial é de 9,80 pesos por dólar, mas se você no blue market”, troca o dólar por 15 pesos, 50% a mais! Isso barateia e muito a viagem.
Fui visitar uma loja de blue market numa galeria da Calle Posadas.
Não tem placa na porta, mas todo mundo conhece. Um escritório pequeno,
sala de espera apertada e outro cômodo estreito com o caixa —
computadores e máquinas de contar dinheiro. Dólar a 15 pesos.
Euro a 17,50.
Rotatividade enorme. Entra gente a cada minuto — na maioria , estrangeiros, mas também muitos argentinos.
Bom, se todo mundo sabe onde é, claro que a Polícia Federal também sabe.
Parece que deixam algumas dessas casas de câmbio para dar um certo
alívio.
Na famosa Feira de San Telmo, o dólar corre livre. Mas os negócios são
desfavoráveis aos turistas. Os comerciantes recebem em dólar a 8,50
pesos e devolvem o troco em pesos. Baita negócio para eles, pois recebem
o dólar abaixo da cotação oficial, a 8,50.
O ambiente é meio deprê. Muitas lojas e restaurantes fechados.
As lojas de vinho continuam ótimas. Na venda para estrangeiros, dão o
tíquete para você para receber os impostos de volta — já que venda
externa é livre de impostos.
Mas é preciso preencher um baita recibo e receber o dinheiro na loja da
Receita no aeroporto. Avisam: vai com tempo que tem fila.
Chegamos domingo à noite — e não tinha fila. A Receita estava fechada.
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