Jornalista Andrade Junior

domingo, 27 de setembro de 2015

“Michel Temer vem aí”

e outras cinco notas de Carlos Brickmann  Publicado na Coluna de Carlos Brickmann


A política e a lei às vezes se movem devagar, mas seu movimento é incontível. A crise que empareda a presidente Dilma e seu governo não anda com a rapidez que alguns oposicionistas mais duros esperavam; mas parar, isso não parou. A primeira bomba estourou ontem mesmo: a decisão italiana de extraditar Henrique Pizzolato para o Brasil. Se Pizzolato preferir trocar alguns anos de prisão por coisas que ainda não contou ─ bem, ele era diretor de Marketing do Banco do Brasil e sabe tudo. Sua presença no Brasil pode ser ruim para muita gente.
Outras bombas explodem aos poucos, mas sem parar. O PMDB, dono dos votos que decidem o impeachment, se recusou a indicar ministros para Dilma. O PMDB, recusando cargos? Tem coisa esquisita aí. Não é coisa boa para quem oferece e se vê rejeitada. E o PT, partido do governo, opondo-se ao governo? Há pouco tempo, as principais entidades empresariais do país fizeram um manifesto “em defesa da governabilidade” ─ traduzindo, pró-Dilma. O banqueiro Roberto Setúbal elogiou a presidente. Hoje, Fiesp e Firjan, que reúnem indústrias de São Paulo e Rio, se colocam ao lado da oposição. Não, não falam em impeachment. Ainda não falam. E os banqueiros se mantêm em estrondoso silêncio.

Lula promete viajar o país em defesa de Dilma, mas até agora só viajou do Instituto Lula para Brasília, ida e volta. Ele gostaria de afastar Aloizio Mercadante, não foi atendido. Há quem diga que está na mira de novas investigações, não se sabe. Mas não age com a desenvoltura de hábito. 

Está difícil para todo mundo.

Somando tudo

Amanhã, o IBGE deve anunciar o desemprego ─ tudo indica que cresceu. Ontem, o dólar ultrapassou os R$ 4,00; e o governo, consolidando o rompimento com as entidades empresariais e irritando o pagador de impostos com mais um ataque a seu bolso, enviou ao Congresso o projeto de recriação da CPMF. O pacote fiscal, que finge ser corte de gastos e é apenas aumento de impostos, nem entrou em votação, e é difícil que passe. 

Ibope e Datafolha já pesquisam a popularidade de Dilma ─ se cair ainda mais, dará um péssimo sinal ao PT. A situação está tão brava que, nos anúncios de rádio e TV do partido, Lula entra e Dilma não. Há tempo para mudar, porque os anúncios serão divulgados só na semana que vem. Mas até agora preferiram fazer sem ela. E, considerando-se que Dilma viaja amanhã e só volta na semana que vem, talvez haja anúncios sem panelaços.

Frase terrível

O deputado pernambucano Jarbas Vasconcelos, do PMDB pernambucano, respeitado em todas as áreas por sua integridade, é duro ao analisar a situação: acha que Dilma cai, talvez em outubro, por impeachment ou renúncia. Completa: “Temos de nos livrar dessa praga antes do fim do ano. Ela está terminal”. Sobre Lula: “É uma quadrilha organizada e o Lula é quem comanda. Vocês têm dúvida de que Lula vai ser preso na Operação Lava Jato? Vai ser uma cena bonita”.

A derrota de quem ganha

É difícil que Dilma se salve. Políticos experientes, cuja capacidade de antever o desenho do futuro já foi comprovada, disseram a este colunista que o governo Dilma acabou; e que ela não comerá o peru de Natal no Palácio da Alvorada. Mas seus maiores adversários, os comandantes do PMDB, também podem ser atingidos pelo furacão da Lava Jato. A Operação Nessun Dorma prendeu o lobista João Augusto Henriques. O lobista Fernando Baiano faz delação premiada. Ambos, afirma-se, sabem muito sobre o PMDB ─ o que inclui a cúpula do partido. 

Uns 300 anos antes de Cristo, o rei da Macedônia e de Épiro, Pirro, derrotou por duas vezes o cada vez mais poderoso Império Romano. Mas o custo foi tamanho que ele mesmo reconheceu: “mais uma vitória dessas e estou liquidado”.

O PMDB corre esse risco: derrotar o grande adversário e perecer na festa.

Como dizia FHC

Nos tempos de Itamar Franco, quando o presidente tinha algum compromisso oficial no Exterior, o ministro Fernando Henrique brincava: “A crise está viajando”. E não é que de novo a crise vai viajar? Dilma vai amanhã para os Estados Unidos, onde participa, na sexta, da Cúpula de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Na segunda, abre, como é da tradição, a Assembléia Geral da ONU. 

Tudo bem, faz parte da função presidencial. Mas será que a presidente vai resistir ao apelo do aluguel de limusines e de suítes milionárias dos hotéis mais estrelados da cidade? Na sua última viagem aos EUA, a presidente gastou mais de US$ 100 mil só no aluguel de limusines para ela e sua luzida comitiva.

Erro essencial de pessoa

A guerrilha do PT está voltada contra Aécio Neves e contra, claro, Fernando Henrique. O objetivo é simples: simular algo que pareça um movimento de opinião pública, uma tentativa de criar uma verdade a partir de um falso consenso. Mas tudo indica que não é só o consenso que é falso: Fernando Henrique não é candidato; e Aécio não conseguiu ainda uma posição preponderante no partido. Dos atuais tucanos, o candidato mais provável, hoje, é o senador José Serra, que se articula com Temer e o PMDB e procura colocar-se no governo de Temer, após a queda, que considera inevitável, de Dilma. Seria o candidato do PMDB.






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