editorial da Folha de São Paulo
No dia 24 de agosto, a presidente Dilma Rousseff (PT) mandou anunciar
que reduziria seu ministério de 39 para 29 pastas, sem indicar quais
deixariam de existir. Na mesma data, ouviu do vice-presidente Michel
Temer (PMDB) que ele estava deixando a articulação política.
No dia 24 de setembro, a presidente Dilma Rousseff embarcou para os EUA
sem concluir a prometida reforma administrativa. Na mesma data, viu o
vice-presidente Michel Temer anunciar na televisão que o Brasil era "uma
sociedade angustiada à espera de soluções". Ele, infere-se, não quer
ser visto como parte do problema.
Em resumo, um mês foi perdido sem que a presidente conseguisse desatar o
nó que manieta seu governo. Nem mesmo a ponta mais ao alcance das mãos
–a mudança do ministério– ela consegue apanhar. E, carente de opções,
pede socorro a quem lhe aperta o garrote.
Na sombrio programa de TV levado ao ar pelo PMDB, um truque digital
apresentou um mosaico de fotografias de correligionários que, numa
espécie de fusão, dão lugar ao rosto de Temer, primeiro na linha
sucessória de Dilma. A sugerida unidade do partido, porém, não é imune a
desavenças internas.
Ao oferecer mais espaço na Esplanada a peemedebistas do baixo clero, a
presidente obriga-se a lidar com uma miríade de desejos fisiológicos tão
diversos quanto difíceis de saciar. Não chega a espantar, portanto, a
delonga da reforma –que, segundo as metas proclamadas de início, deveria
tornar mais eficiente a gestão federal.
Na tentativa de impedir a formação de uma maioria suficiente para
acolher um pedido de impeachment, Dilma Rousseff pode se ver
constrangida a ceder 6 de 29 ministérios à sigla (que hoje comanda 5 de
39). Sem garantia alguma de sucesso, sublinhe-se.
Tenta-se contornar Temer e estabelecer ligação direta com o PMDB da
Câmara, o que subordina o comando futuro de pastas bilionárias às
miudezas do varejo político. No caso de maior monta, a bancada do
deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) almeja arrebatar do PT o Ministério
da Saúde, que movimenta R$ 110 bilhões anuais.
"Mais ocupação de cargos ou menos ocupação de cargos jamais vai resolver
as divergências de base que existiam", agourou o presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que conhece bem os corredores da Casa e do
partido.
Dilma tem diante de si dois objetivos de difícil conciliação: de um
lado, aglutinar apoios, dentro e fora do Congresso, para fazer o ajuste
fiscal; de outro, concentrar tempo e energia em uma negociação
labiríntica destinada a salvar seu mandato. E não pode se dar ao luxo de
perder mais um mês.
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