editorial da Folha de São Paulo
Uma particularidade da atual recessão é a velocidade com que se degradou
o mercado de trabalho. Deixada para trás uma conjuntura historicamente
favorável, as proporções da queda do emprego neste ano superam as
observadas nas duas retrações econômicas anteriores, em 2003 e 2009.
No mês de agosto, 7,6% dos interessados em uma ocupação nas seis
principais metrópoles do país não obtiveram sucesso, conforme divulgado
pelo IBGE nesta quinta-feira (24). Em igual período de 2014, essa taxa
limitava-se a 5%. O número de desempregados, portanto, já cresceu mais
de 50%. E o processo segue em andamento.
Reverteu-se desde janeiro uma trajetória de melhora contínua que,
iniciada em 2010, contribuiu para a eleição e a recondução da presidente
Dilma Rousseff (PT) –ela própria associa o atual colapso orçamentário
às políticas adotadas para estimular a criação de vagas.
Se é verdade que desonerações tributárias, programas sociais e crédito
subsidiado nos bancos públicos sustentaram a demanda e as contratações,
os ajustes convenientemente procrastinados até o segundo mandato cobram
agora seu preço com juros de mora.
Empregos caem em quantidade e qualidade. Nota-se que, entre as pessoas
que permanecem ocupadas, a renda média declinou 3,5% em um ano,
descontada a inflação do período. Trata-se de uma perda superior à
projetada para a economia nacional neste ano, de 2,7%.
A média encobre situações mais dramáticas. Para os empregados sem
carteira de trabalho assinada, o exemplo mais eloquente, a queda atinge
12,6%. Além de contar com os menores rendimentos, esse segmento, que
representa 13% dos ocupados, acumula a vulnerabilidade de não contar com
benefícios como o seguro-desemprego.
São visíveis, ademais, as tendências de redução do contingente de
assalariados com carteira assinada e de aumento dos que trabalham por
conta própria –o que, descontado o formalismo das classificações, revela
haver mais gente obrigada a trocar empregos por bicos.
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