editorial da Folha de São Paulo
Enquanto as atenções da macropolítica se concentram na ruína das
finanças federais, os governos dos Estados vivem dramas orçamentários de
efeitos mais diretos sobre o cotidiano da população.
A escassez de recursos tem levado governadores a lançar mão de medidas
que vão das tradicionais majorações de impostos e tarifas de transporte
público até a elevação dos preços das refeições em restaurantes
populares, conforme noticiou esta Folha.
Do lado das despesas, há dificuldades para o pagamento do funcionalismo
e, sobretudo, taxas alarmantes de queda na execução de obras públicas.
No primeiro semestre, a liberação de verbas para investimento caiu 75%
em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, em valores corrigidos.
A razão mais evidente –não a única, entretanto– para a penúria é a queda
generalizada da arrecadação, que afeta não só as receitas próprias dos
Estados mas também as transferências obrigatórias da União para os
demais entes federativos, cuja importância é maior nas regiões Norte e
Nordeste.
Principal tributo estadual, o ICMS incide, como indica a sigla, sobre a
circulação de mercadorias e serviços. Seu desempenho definha,
previsivelmente, sob o impacto da recessão que ora derruba o consumo das
famílias e as encomendas das empresas.
Não por acaso, a receita tributária encolheu em 18 dos 26 Estados e no
Distrito Federal. Somou R$ 208 bilhões na primeira metade do ano, numa
redução de 5% em relação ao período correspondente de 2014, descontada a
inflação.
Trata-se de equívoco, porém, imaginar que as mazelas vividas pelos
governos regionais estejam circunscritas aos efeitos da conjuntura
recessiva –cujo encerramento, aliás, ainda não é visível.
São conhecidos os índices exagerados de endividamento, em especial nos
Estados mais ricos, e de despesas com pessoal. O rol de desequilíbrios
foi ampliado pela imprudência das administrações do início desta década.
Governadores da safra passada, 11 deles reeleitos, embarcaram na
expansão de gastos patrocinada pelo governo Dilma Rousseff (PT) por meio
de financiamentos do BNDES, com piora geral dos balanços. São Paulo e
Rio de Janeiro, os exemplos mais importantes, fecharam o ano passado no
vermelho, pelos critérios do Banco Central.
Em proporções variadas, os ajustes agora inadiáveis tendem a minar o
capital político das atuais administrações estaduais –o tucano Beto
Richa, do Paraná, é até aqui o caso mais dramático. O desgaste
suprapartidário que se avizinha torna ainda mais nebuloso o desfecho dos
impasses vividos pelo país.
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