por Igor Gielow Folha de São Paulo
Enquanto o ex-governo Dilma compra o jantar com o dinheiro do almoço,
prometendo mundos e fundos inexistentes ao PMDB faminto por despojos e
dotado de lealdades aferíveis em programas de TV, peças se movem no
tabuleiro.
Quase de forma invisível, Marina Silva enfim criou seu partido. A famosa
terceira via tem potencial de crescimento entre esquerdistas
desiludidos com a implosão do PT.
Se irá ser bem-sucedida ou apenas atrair ávidos por cinco minutos de
fama, é outra história. Nem tampouco é claro qual será a plataforma
desse pessoal, como não era nas duas campanhas da ex-senadora –de resto,
uma política absolutamente convencional na origem e nos apoios.
Outro oportunista contumaz, Ciro Gomes, filiou-se com um discurso
articuladinho ao PDT. Faz sentido: o partido topou voltar à base às
custas de um ministério, mas rachou na crucial votação dos vetos de
Dilma.
A oposição segue esperando o desenrolar das coisas, visando reclamar
para si uma eventual queda da presidente, alternando passividade e
agressividade que refletem suas divisões e antecipam uma luta de foice
sobre as ruínas do país.
No PMDB do por ora presidente-em-espera Michel Temer, o jogo também se
arrasta, com atrações novidadeiras e antagônicas como a dupla Marta
Suplicy (opositora) e Kátia Abreu (primeira-amiga de Dilma).
"Estamos prontos", diz o partido, que parece tentar montar um ministério
Temer, com ou sem Dilma na cadeira. Como me perguntou um diplomata
europeu nesta semana, "mas eles não são do governo?". Pois é, tudo
lembra os personagens de uma música do U2 cantada pelo Johnny Cash:
"Eles dizem querer o Reino, mas eles não querem Deus nele".
Entre sístoles e diástoles, há momentos de parada e niilismo como o
atual, vitaminado pela ausência de Dilma e pela momentânea eficácia do
BC e do Tesouro em aplacar o ataque especulativo. O jogo continua.
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