por Bernardo Mello Franco Folha de São Paulo
A oferta do Ministério da Saúde aos deputados do PMDB dá a dimensão do
desespero do Planalto. Com o mandato em risco, a presidente Dilma
Rousseff entregou uma das pastas mais sensíveis do governo ao balcão de
negócios. Está oficialmente aberta a temporada do vale-tudo contra a
ameaça do impeachment.
As pesquisas apontam a saúde como o principal problema dos brasileiros.
Com o agravamento da crise, a demanda pela rede pública só vai crescer, à
medida que mais famílias serão obrigadas a abrir mão dos planos
privados. É nesse contexto que o ministério bilionário virou moeda de
troca por votos na Câmara.
O favorito para assumir o cargo é um ilustre desconhecido do setor: o
deputado Manoel Junior, do PMDB da Paraíba. Sua maior experiência na
gestão de saúde foi como administrador do hospital de Pedras de Fogo, um
município de 28 mil habitantes.
O deputado é homem da confiança de Eduardo Cunha, que simula
desinteresse no leilão de ministérios. Em sintonia com ele,
notabilizou-se por relatar medidas provisórias recheadas de "jabutis",
emendas sem ligação com o tema original.
Em 2014, foi relator da MP das Farmácias, salpicada de artigos para
dificultar a vida de pequenos frigoríficos. Deputados do PSOL o acusaram
de favorecer a JBS, grande doadora de campanhas. Neste ano, ele relatou
a MP 668, que ganhou "jabutis" para facilitar a construção do
"parlashopping" e anular multas a igrejas evangélicas que sonegaram
imposto.
Diante desse currículo, a entrevista em que Manoel Junior sugeriu a
renúncia da presidente parece um embaraço menor à sua nomeação.
Os aliados de Dilma alegam que ela não tinha alternativa, mas sabem que a
liquidação de ministérios pode não ser suficiente para acalmar o PMDB.
Nesta quinta, o partido voltará a fazer ameaças veladas, em propaganda
de TV que exaltará o vice Michel Temer. No sábado, fará festa para
receber a senadora Marta Suplicy, recém-convertida ao antipetismo.
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