editorial de O Globo
O governo quer recriar a CPMF, contra os interesses da sociedade, enquanto deixa de avaliar o setor de empresas públicas, onde há várias desnecessárias e onerosas
Se o Planalto não estivesse condicionado pela visão ideológica do
estatismo, a crise já o teria levado a projetar luz no avantajado
universo de empresas estatais, várias desnecessárias, ociosas, e
repletas de funcionários. Mais um peso morto para o Tesouro, a ser
lançado ao mar numa crise fiscal como a de agora, a mais grave desde a
redemocratização.
O Planalto tem na própria administração pública, na Petrobras, um bom
exemplo a seguir. Dilapidada pelo esquema de corrupção montado pelo
lulopetismo, a estatal, com ações em bolsas mundiais, tem sido punida
pelo mercado, como merece, e precisou reagir para refazer o caixa, da
maneira tecnicamente mais indicada: vendendo ativos. Registre-se mais
uma ironia, a de um governo do PT ser responsável pelo maior programa de
privatizações já realizado desde a Era FH.
Pois a companhia, sem acesso a crédito barato no sistema financeiro
interno e externo, rebaixada pelas agências de avaliação de risco, prevê
arrecadar, num primeiro momento, com a venda de patrimônio, US$ 15,1
bilhões, e mais US$ 42,7 bilhões até 2018.
Por que não fazer o mesmo com outras estatais? Há algumas que deveriam
ser simplesmente extintas, como a Pré-Sal Petróleo S.A., que, dentro de
uma ótica estatista, administraria os contratos de exploração na área.
Sem a Petrobras ter condições de executar os pesados investimentos
requeridos por essa nova fronteira de exploração, capitais privados
terão de ser atraídos em grande escala. Basta a agência do setor (ANP)
para gerenciar os contratos, como já faz no modelo de concessão.
Das 143 estatais controladas pela União, revelou O GLOBO que há 18
dependentes diretamente do Tesouro. E gastam mais em salários do que
investem: de 2009 a 2014, ampliaram o quadro de funcionários de 36,4 mil
para 47,4 mil, aumentaram a folha de salários de R$ 3,5 bilhões para R$
7,3 bilhões, enquanto os investimentos evoluíram de R$ 2,9 bilhões para
R$ 4,3 bilhões, sempre com dinheiro do Tesouro. Apenas em 2013, esse
conjunto de estatais recebeu dos contribuintes R$ 15,1 bilhões, metade
do que o governo quer arrecadar por ano com o relançamento da CPMF,
imposto execrado no Congresso e fora dele.
Nenhuma das empresas dá lucro. Entre elas, há a EPL, criada para
viabilizar o projeto do trem-bala. O projeto foi abandonado, mas a
estatal sobrevive, algo no mínimo bizarro. Sobrevive até mesmo a
Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), com sede no Rio e operando
metrôs em Minas e no Nordeste, outra bizarrice. Casos do tipo são
vários. A crise obriga o governo e enfrentá-los.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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