editorial do Estadão
Ocorreram na segunda-feira dois fatos relevantes no âmbito da Operação Lava Jato: o anúncio da condenação de mais um tesoureiro do PT e um grave e importante alerta do procurador regional da República em Curitiba, Carlos Francisco dos Santos Lima, a respeito do risco que corre a operação de vir a ser descaracterizada, em prejuízo da apuração do envolvimento dos políticos no amplo esquema de corrupção cujas origens estão na Casa Civil da Presidência da República – portanto, desde o episódio do mensalão, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Para Santos Lima, os casos do mensalão, do petrolão e também da Eletronuclear “são todos conexos porque dentro deles está a mesma organização criminosa” dedicada à “compra de apoio político partidário pelo governo federal, por meio de propina institucionalizada nos órgãos públicos”.
A condenação, pelo juiz federal Sergio Moro, de mais um tesoureiro do
PT, João Vaccari Neto, apenas confirma o que todo o País já sabia desde o
mensalão: Lula e seu partido, que se vangloriam de ter inaugurado novos
tempos ao priorizar programas sociais, se empenharam também, e com
maior determinação e eficácia, desde o primeiro mandato do
ex-presidente, em colocar o governo a serviço do projeto de poder
lulopetista, para o que não hesitaram em aparelhar a administração
federal e arrombar os cofres públicos em benefício próprio e de um amplo
universo de “aliados” transformados em cúmplices.
Paralelamente ao anúncio da condenação de Vaccari Neto, do ex-diretor da
Petrobrás Renato Duque e de mais oito pessoas, uma equipe de
procuradores federais, à frente o procurador regional Santos Lima,
anunciou, na capital paranaense, o lançamento de uma nova etapa da Lava
Jato, denominada Nessun Dorma (“Ninguém Durma”, título da famosa ária
final da ópera Turandot, de Puccini), dedicada a aprofundar as
investigações que se estendem ao setor elétrico e que no mesmo dia
resultaram na prisão de um ex-sócio da empreiteira Engevix, José Antonio
Sobrinho, e de João Augusto Rezende Henriques, apontado como lobista do
PMDB.
A manifestação de Santos Lima foi contundentemente esclarecedora: “O que
queremos mostrar é que não estamos investigando (apenas) a Petrobrás.
Estamos desvelando a compra de apoio político-partidário pelo governo
federal, por meio de propina institucionalizada nos órgãos públicos”. E
acrescentou: “Mensalão, petrolão, Eletronuclear são todos eles conexos,
porque dentro deles está a mesma organização criminosa. No ápice dessa
organização estão pessoas ligadas a partidos e, não tenho dúvida, à Casa
Civil do governo Lula”.
A ênfase dada pelo procurador pode ser atribuída ao fato de que o
responsável pela Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Teori
Zavascki – aos cuidados de quem estão os processos que envolvem
investigados com foro privilegiado –, tem revelado a intenção de
desmembrar as ações que não digam respeito exclusivamente à Petrobrás,
transferindo-as a outros ministros. Foi o que fez recentemente com o
caso da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), investigada pela Lava Jato a
respeito de desvios do Ministério do Planejamento. Zavascki redistribuiu
o processo para o ministro Dias Toffoli, sob o argumento de que não
tinha conexão com a Petrobrás.
Zavascki tem afirmado que não pode assumir o controle da investigação de
todos os casos de corrupção que ocorrem no governo, pois sua missão é
tratar da Petrobrás. É um argumento que merece atenção, mas desconsidera
o fato, enfatizado por Santos Lima, de que o trabalho da Lava Jato
revelou a conexão dos desvios na Petrobrás com atos delituosos
praticados em outras empresas e órgãos do governo.
A postura do ministro pode levar as investigações que envolvem pessoas
com direito a foro privilegiado – mesmo as relacionadas com o esquema
criminoso por detrás do escândalo da Petrobrás, mas não necessariamente
com a estatal – a serem assumidas por outras varas criminais federais
que não a de Sergio Moro, em Curitiba. Isso marginalizaria a equipe de
policiais federais e procuradores envolvidos na Lava Jato, o que
certamente resultaria, pelo menos por um bom tempo, na desarticulação
das investigações em curso. Uma possibilidade que certamente qualquer
político na mira da Lava Jato aplaude.
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