editorial do Estadão
A crise econômica em que o populismo petista afundou o País continua sem
perspectiva imediata sequer de algum alívio, porque a área política,
nomeadamente o Congresso Nacional, do qual depende a viabilização de
qualquer estratégia de combate à causa principal dos problemas – o caos
que impera nas contas do governo –, não consegue romper o impasse
decorrente da dificuldade de conciliar os interesses pessoais e
partidários em jogo. Dito de forma mais clara: enquanto os políticos –
do governo, da oposição e do muro – não conseguirem se entender a
respeito do que é melhor para eles próprios, dificilmente dedicarão
parte de seu precioso tempo à busca do entendimento a respeito do que é
melhor para o País.
Esse quadro lamentável é produto do fisiologismo predominante, com
raríssimas exceções, nas bancadas parlamentares. Afinal, o toma lá dá cá
é a matéria-prima do “presidencialismo de coalizão” concebido por Lula.
O surgimento, nos últimos dias, de novas hipóteses para o desfecho da
crise naquilo que diz respeito ao mandato da presidente parece ter
estimulado as diferentes correntes políticas a buscar caminhos em que
corram menos riscos.
Ninguém se atreve a fazer uma aposta que pode dar errado.
O PMDB, maior partido do Congresso e teoricamente ainda aliado do
governo, é o maior exemplo das incertezas que imobilizam os grupos
políticos. Isso quanto à tomada de decisões oficiais pelos partidos, uma
vez que nos bastidores os conchavos correm soltos. A grande alternativa
em relação à qual mais cedo ou mais tarde as posições serão definidas é
clara: se o que vem pela frente virá com ou sem Dilma Rousseff na
Presidência da República. E essa alternativa dependerá dos
parlamentares, aos quais compete, estabelecidos os pré-requisitos
constitucionais, aprovar ou rejeitar o processo de impeachment.
Os peemedebistas estão divididos. Uma ala na qual se destaca o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aposta no afastamento de Dilma.
Outra, que segue a liderança de Michel Temer, permanece numa expectativa
cautelosa, até porque o vice-presidente é o mais provável beneficiário
do impedimento da presidente. Só não o será se tiver o próprio mandato
também cassado, a partir de uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral. E
há também os governistas de carteirinha, como a ministra Kátia Abreu,
amiga de Dilma.
Para complicar o quadro, ganharam intensidade em Brasília os rumores
sobre a possibilidade de Dilma renunciar. É uma hipótese descartada por
quem conhece o temperamento e a história política da presidente, mas que
ganha plausibilidade quando se leva em conta que o Congresso pode
deixá-la sem condições de governar. E há ainda a influência e o
posicionamento de Lula. Oficialmente, o PT continuará apoiando a
proposta do governo para o ajuste fiscal. Contraditoriamente, porém, na
voz de Lula e de lideranças expressivas, continuará também defendendo a
mudança da política econômica. Quer dizer: fingirá que aprova as medidas
impopulares de austeridade – corte de despesas e aumento de tributos –
indispensáveis ao reequilíbrio e à consequente tentativa de retomada do
crescimento, mas não abrirá mão do discurso populista de que o ajuste
não pode ser feito “nas costas dos pobres”.
Nos últimos dias Lula intensificou suas idas a Brasília para, de acordo
com interlocutores habituais, tomar a frente das articulações políticas,
principalmente com as lideranças do PMDB e especialmente no Senado,
para liquidar qualquer possibilidade de impeachment de sua pupila. Pode
ser apenas jogo de cena, no que Lula é mestre. Dentre as três hipóteses
de desfecho da crise política – Dilma garantir-se na Presidência até
2018, ser afastada do cargo por um processo de impeachment ou renunciar
–, Lula tem sólidos motivos para, na intimidade, tentar evitar a
primeira e a última.
A crise econômica é praticamente impossível de ser debelada até 2018, o
que significa que a permanência de Dilma no poder faria o PT sangrar até
lá, tornando dificílima uma vitória de Lula. A renúncia seria uma
confissão de culpa que respingaria no partido e, principalmente, no
criador de Dilma.
Com o impeachment, Lula estará livre para assumir oficialmente o comando
da oposição, tendo quase três anos para exercer seus dotes de
encantador de multidões e tentar recuperar, com as acusações e as
promessas de sempre, a aura de salvador da Pátria.
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