por Eliane Cantanhêde O Estado de São Paulo
É muito difícil e até doído escrever isso, mas as coisas estão se
precipitando rapidamente em Brasília. O isolamento da presidente Dilma
Rousseff está cada vez mais preocupante e que já se discute em
corredores e gabinetes não é mais “se”, mas “quando” será votado o
processo de impeachment. Não pela capacidade da oposição de pressionar,
mas pela incrível capacidade de Dilma de errar.
Um velho aliado do governo, desses que não admitia nem falar da
hipótese, achava que tudo não passava de jogo político da “ilha da
fantasia” e exigia “uma prova material” contra Dilma, me ligou ontem às 8
da manhã (juro que já estava acordada...) para dizer que tinha mudado
de ideia: “Acabou, não tem mais jeito”.
Ainda há uma forte resistência à troca da presidente, mas essa
resistência está deixando de ser política para enveredar por um campo
quase psicológico. Há grande temor diante do que possa acontecer depois,
dos efeitos na economia e da ameaça belicosa dos movimentos aliados ao
PT que ainda tentam proteger o governo do próprio governo. Mas isso está
diminuindo na mesma proporção que Dilma se mostra incapaz de reagir na
política, na economia, na gestão.
“Este ano, agosto vai ser em novembro”, disse ontem o tucano Aécio
Neves, avaliando que o cronograma passa pela convenção do PMDB que vai
decidir se o partido vai ou não abandonar um governo em que ocupa seis
ministérios e a Vice-Presidência da República. Parece que vai. Dilma fez
apelos ao vice Temer e aos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do
Senado, Renan Calheiros, para que o PMDB indicasse nomes para a reforma
ministerial. Ouviu um triplo “não”. O partido está endurecendo só para
barganhar mais espaço ou está preparando o desembarque em novembro?
Outros partidos, como o PTB, já pularam fora. Mais uns tantos pularão.
Ontem, as bancadas do PSB na Câmara e no Senado já discutiram
abertamente o rompimento e a explicação do presidente do partido, Carlos
Siqueira, foi arrasadora: “Entendemos que é um governo moribundo, temos
que encontrar um meio de o País não sangrar por muito tempo”, disse
ele, após reunião da qual participaram os governadores Rodrigo
Rollemberg (DF), Paulo Câmara (PE) e Ricardo Coutinho (PB).
De fato, chegamos a setembro assim: a presidente não preside, o
Executivo não executa e o Legislativo não legisla, enquanto o dólar vai a
R$ 4, um recorde histórico, e a Lava Jato pega o PT de jeito. Já foram
condenados pelo juiz Sérgio Moro o ex-deputado André Vargas, o primeiro
político da Lava Jato, o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto e o
“operador” petista na Petrobrás, Renato Duque. E Henrique Pizzolatto, do
mensalão, vem aí!
Dilma se debate muito, mas sem sair do lugar: enviou ontem ao Congresso o
projeto de recriação da CPMF sem algumas medidas importantes já
anunciadas; tentou adiar a votação de 32 vetos presidenciais porque
temia perder; não consegue definir os cortes de ministérios; vê o PMDB e
os aliados escorrerem pelos dedos; não ouve os apelos de Lula para
chacoalhar tudo e começar de novo.
Aliás, Dilma Rousseff não conseguia nem mesmo definir se e quando vai
para Nova York, para cumprir um ritual que compete historicamente aos
presidentes brasileiros, o de abrir a Assembleia Geral da ONU todos os
anos, em setembro. Quarta? Quinta? Sexta? Ou nunca? Uma viagem dessas,
numa hora dessas, tende a criar um constrangimento internacional. Dilma
não pode falar do passado, não tem o que dizer sobre o presente e não
sabe o que apontar para o futuro. A expectativa é de uma plateia
atônita, com um pensamento fixo: até quando ela vai manter o mandato?
No exercício da Presidência, Michel Temer tem a obrigação de ficar mudo,
cego e surdo, sem fazer qualquer movimento ou dizer qualquer palavra
que possa comprometê-lo. Só esperando novembro chegar.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
0 comments:
Postar um comentário