por Vinicius Torres Freire Folha de São Paulo
Apenas na grande desvalorização do real, em 1999, a moeda brasileira
perdeu tanto valor em um ano. Na verdade, a coisa anda um pouco pior
agora, mas passemos, por enquanto.
Dado o tumulto no dia a dia ordinário do mercado à desordem
extraordinária da política, não resta muito o que dizer propriamente
sobre economia, nem mesmo sobre a conjuntura mais imediata. Sabe-se
apenas que, nesta batida de juros e de câmbio, quase tudo vai travar.
As taxas de juros sobem sem limite na praça do mercado. Mesmo que
alguém, empresas, tenha coragem ou necessidade desesperada de tomar
dinheiro emprestado a esses preços, a maioria que tem o privilégio de
esperar vai fazê-lo. Esperar por quanto tempo?
Ninguém sabe de nada. Considere-se o essencial do ambiente sinistro de
ontem. Escorria de Brasília até o "mercado" e vice-versa que essas
agências de avaliação de risco de calote estão "avisando" que o Brasil
tem algumas semanas antes de novo rebaixamento de seu crédito.
Enquanto isso, na política, negociava-se hora a hora o destino do
governo de Dilma Rousseff. Isto é, tratava-se de modo caótico e
desesperado do que seria feito da votação dos vetos da presidente a
medidas lunáticas de aumento de gastos aprovadas neste ano pelo
Congresso (parte delas com anuência irresponsável e apoio alegre do
Judiciário, aliás).
A derrubada dos vetos seria a desautorização terminal de Dilma Rousseff.
Muito mais que isso, seria a evidência de ruína descontrolada das
contas do governo, sinal de que a elite política coloca mais fogo na
casa em dia de terremoto.
A situação era repulsivamente lamentável. Por exemplo, o governo correu
ontem para publicar uma edição extra do Diário Oficial da União, com
algumas medidas do pacote salva-vidas anunciado na semana passada, entre
elas a emenda constitucional que recria a CPMF. Tratava-se de
"demonstrar" que o governo empenha-se em tapar o rombo que orçou para o
ano que vem. A isto foi reduzido o governo do Brasil.
Na prática, o crédito de país, governo e empresas está rebaixado e
baixando cada vez mais. Essas agências dariam uma espécie de tiro de
misericórdia ou chutariam um cachorro moribundo. Duas "notas vermelhas"
riscariam os negócios com o Brasil do mapa de muito investidor grande,
oficialmente. "Na prática" quer dizer que tanto pelo descrédito do
governo quanto pelo risco de rebaixamento formal do crédito, muita gente
se antecipa e vende reais. Simples assim, todo mundo agora já sabe.
Não se sabe por quanto tempo o dólar permanecerá em sua jornada nas
estrelas, mas viajou o bastante para arruinar as previsões de inflação e
taxa básica de juros para o ano que vem. A dúvida agora diz respeito à
maneira pela qual o BC vai lidar com o desastre. Na praça, os juros
voam, de par com o dólar.
Por fim, note-se quão impressionante é o derretimento do real, que
supera o esboroamento de 1999, mas em contexto completamente diverso.
Saía-se de um regime de câmbio quase fixo, administrado. Além do mais,
muito importante, o Brasil estava quebrado em várias frentes, em
particular no que diz respeito às suas contas externas. A dívida externa
era grande, parte importante da dívida do governo era em dólar.
Agora, conseguiu-se fabricar uma crise todinha em casa. Grossa incompetência caseirinha.
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