por Bernardo Mello Franco Folha de São Paulo
Em artigo recente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu
que "a solução da crise não decorrerá apenas da remoção do obstáculo
mais visível a um reordenamento político, simbolizado por quem exerce o
Executivo e pelo partido de apoio ao governo, mas da formação de um novo
bloco de poder".
A primeira parte da frase deixa claro que o tucano aderiu ao grupo que
deseja "remover" a presidente Dilma do Planalto. A segunda sugere o
desejo de ver seus aliados na base de um eventual governo Michel Temer.
O bloco almejado por FHC começou a se formar nesta terça, quando o
deputado Mendonça Filho apresentou questão de ordem sobre o impeachment.
O documento foi subscrito por dirigentes de seis partidos que apoiaram
Aécio Neves no segundo turno da eleição presidencial: PSDB, DEM, PTB,
SD, PPS e PSC.
A lista de assinaturas permitiu aos petistas repetir que o grupo do
senador, derrotado nas urnas, agora tenta virar a mesa no tapetão da
Câmara. No entanto, a bancada aecista contabiliza apenas 116 deputados.
Faltariam 226 votos até os 342 necessários para afastar a presidente.
Os números indicam que o "novo bloco" terá obrigatoriamente um outro
dono, que não pertence à oposição oficial. O único político com força
para assumir o papel e entregar a Presidência a Temer é o presidente da
Câmara, Eduardo Cunha.
Além de comandar a ala anti-Dilma do PMDB, ele tem concentrado o assédio
sobre três siglas de centro-direita que apoiaram a reeleição de Dilma
por conveniência: PP, PSD e PR.
Se o plano de FHC passa obrigatoriamente pela liderança de Cunha, o
ex-presidente poderia escrever um novo artigo para responder duas
perguntas. Se ele quer derrubar a presidente para tirar a economia do
buraco, como dará aval a uma aliança com o comandante da "pauta-bomba"
na Câmara? Se o mote for o combate à corrupção, como aceitará entregar o
"novo bloco de poder" a um político denunciado na Lava Jato?
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