Felipe Bächtold Folha
Delator da Operação Lava Jato, o lobista Julio Camargo afirma que bancou gastos de R$ 2 milhões do ex-ministro José Dirceu com voos em jatinho pelo país. Os custos dos voos, disse o delator, eram abatidos de uma soma de propina que o ex-ministro recebia com origem na Petrobras.
Dirceu virou réu em ação ligada à Lava Jato na terça-feira (15), assim como Camargo. Os depoimentos do delator ajudaram a embasar a denúncia.
Os repasses a Dirceu, ainda de acordo com Camargo, somaram R$ 4 milhões e foram realizados de “modo informal” –por isso não foram apresentados documentos bancários relacionados. O delator disse que o então diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, “autorizava” os pagamentos.
“O custo dos voos em tais aeronaves, aproximadamente R$ 2 milhões, foram deduzidos dos valores que José Dirceu tinha para receber da empresa Apolo [fornecedora de tubos] e dos R$ 4 milhões”, disse o lobista em depoimento, de acordo com a transcrição.
ANOTAVA OS VOOS
Camargo acrescentou que costumava “anotar” os voos realizados por Dirceu para depois cobrar os custos de viagem. Ele entregou uma planilha com dados de viagens feitas entre 2010 e 2011. Entre os destinos, estão aeroportos em Estados como Minas, Paraná e Bahia.
A aquisição de um dos dois aviões usados por Dirceu foi mencionada na denúncia do Ministério Público Federal contra o ex-ministro. Segundo a acusação, um terço de um jato Cessna foi adquirido por Camargo e pelo lobista Milton Pascowitch “em favor” de Dirceu.
No depoimento de Camargo, ele afirma que uma outra parcela do Cessna pertencia a um amigo de Dirceu chamado Naim Beydoun.
O relato do delator afirma que fez pagamento ao irmão do ex-ministro, Luiz Eduardo, e a uma empresa indicada por ele.
O depoimento foi prestado no último dia 31 e anexado ao processo em que Dirceu é réu.
CAMARGO CORRÊA
Também no depoimento, o delator relatou que se reuniu em sua casa com Dirceu e um representante da empreiteira Camargo Corrêa para discutir um contrato na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Ele afirmou que soube de maneira informal que “o assunto” entre a empresa e o ex-ministro acabou “resolvido” entre as duas partes.
No processo em que Dirceu virou réu, a única empreiteira que teve representantes denunciados foi a Engevix.
O advogado Roberto Podval, que defende o ex-ministro, disse vai contestar as acusações em defesa formal que apresentará à Justiça.
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