editorial de O Globo
A recessão econômica
começou a ser contratada antes mesmo do início da operação de combate à
corrupção. Não pode, portanto, ser responsabilizada pela crise
Autoridades têm óbvias conveniências e limitações que condicionam seus
pronunciamentos. Ministros da Fazenda, por exemplo, são sempre otimistas
com os rumos da economia. E presidentes, com o próprio país.
Entende-se, mas a questão é saber se acreditam no que dizem. Dilma não é
a primeira pessoa a despachar no gabinete presidencial, no Planalto,
que responsabiliza o exterior por toda maior dificuldade brasileira.
Mesmo quando a economia americana se recupera há meses seguidos, como acontece agora.
O arrefecimento da China é ruim para exportadores de commodities, o Brasil entre eles.
Mas não chega a explicar toda a amplitude dos problemas nacionais:
inflação na fronteira dos dois dígitos, recessão e todas as suas
consequências malévolas — desemprego, perda de renda, agravamento das
desigualdades, e assim por diante.
A última pesquisa Focus, feita pelo Banco Central semanalmente junto a
analistas das principais instituições financeiras, ampliou a previsão de
retração do PIB, este ano, para 1,76%. E há quem já projete 2%, uma
recessão de razoáveis dimensões para a economia brasileira.
Em reunião com políticos da base do governo, na segunda-feira, a
presidente Dilma disse que a Operação Lava-Jato “provocou uma queda de
um ponto percentual no PIB brasileiro”. Não informou como chegou ao
número.
Ele já desacelerava, não devido à Operação Lava-Jato —lançada em março e
que passou a ampliar espaço no noticiário apenas no fim do ano —, mas
porque foram cometidos erros crassos com a adoção do tal “novo marco
macroeconômico”, cujos resultados são o forte crescimento da dívida
pública, mais inflação e recessão.
Assim, sabia-se que algum ajuste teria de ser feito em 2015. E ele veio.
Responsabilizar a Lava-Jato pela perda de um ponto percentual de PIB é
tentar jogar fumaça nos olhos da opinião pública. Compreenda-se o
escorregão da presidente pela contingência do momento e do cargo. Pois é
inconcebível achar que o Brasil estaria melhor sem a devassa
anticorrupção.
É o oposto. Punir exemplarmente corruptos e corruptores, neste circuito
de grandes obras no setor público, melhorará a segurança jurídica dos
investimentos. Será um forte fator de atração dos investidores.
extraídaderota2014blogspot
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