DANIELA LIMA, MARIANA HAUBERT e MARINA DIAS - Folha de São Paulo
Pouco depois de dizer que a renúncia da presidente Dilma Rousseff seria
um "gesto de grandeza", o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez
nesta segunda-feira (17) um esforço para alinhar o discurso dos
principais líderes tucanos.
FHC reuniu em seu apartamento, em São Paulo, os dois líderes que
despontam como opções do PSDB para a próxima eleição presidencial, o
senador mineiro Aécio Neves e o governador paulista, Geraldo Alckmin.
De acordo com relatos feitos à *Folha,* Fernando Henrique fez uma
análise do cenário político e disse que o partido deveria falar a mesma
língua ao discutir as alternativas para o país sair da crise. Na semana
passada, FHC já havia conversado sobre o assunto com outro líder tucano,
o senador José Serra (SP).
Há duas semanas, aliados de Aécio defenderam a renúncia de Dilma e do
vice-presidente Michel Temer, e a realização de nova eleição. Alckmin
tem sido cauteloso sobre a possibilidade de impeachment agora, quando
ele não teria condições de deixar o governo para disputar com Aécio a
indicação do PSDB e se candidatar à Presidência.
Logo após o encontro de FHC com Aécio e Alckmin, o senador Aloysio Nunes
(SP), que foi vice da chapa de Aécio na eleição presidencial de 2014,
subiu à tribuna do Senado e disse que, se um pedido de impeachment fosse
submetido hoje ao plenário da Câmara, o PSDB votaria pelo afastamento
de Dilma.
Tucanos interpretaram a fala de Aloysio, que continua muito próximo a
Aécio, como um recuo do discurso adotado anteriormente pelos aliados do
mineiro que defenderam a realização de nova eleição.
'ILEGÍTIMO'
Na mensagem divulgada nesta segunda, FHC disse que as manifestações de domingo mostraram que a população vê o governo como "ilegítimo". Citando o boneco levado às ruas em Brasília, representando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido de presidiário, o tucano disse que a "base moral" do governo foi "corroída pelas falcatruas do lulopetismo".
Para FHC, "a presidente, mesmo que pessoalmente possa se salvaguardar,
sofre contaminação dos malfeitos de seu patrono, perdendo condições de
governar".
Fernando Henrique também condenou os "conchavos de cúpula", que, a esta
altura, só contribuem para aumentar "a reação popular negativa e não
devolvem legitimidade ao governo, a aceitação de seu direito de
conduzir".
A frase foi vista como uma referência ao aceno que o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez em direção ao Planalto na semana
passada, ao sugerir a adoção de uma agenda de reformas econômicas para
evitar o aprofundamento da crise.
O Palácio do Planalto foi surpreendido com a mudança de tom de Fernando
Henrique, que até agora preferia adotar um discurso conciliador ao
tratar da situação do governo. Nos bastidores, a avaliação foi que a
oposição quer se associar ao espírito das ruas e se afastar do movimento
de aproximação com o governo liderado por Renan.
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