Arnaldo Jabor O ESTADO DE SÃO PAULO
"Sem nós, a presidenta não faz nada! Não pensem vocês que estamos de
brincadeira. Esses soviéticos não aprendem... Lembram que tentaram
enrolar o PTB, logo com quem? - o 'cobra criada' Jefferson que os botou
para correr. Sei que o plano da presidente (a) é combater nosso excesso
de poder. Não adianta; em nosso 'blocão', além dos 'nanicos', nós temos
os grandes mestres, os faixas pretas do País: Sarney, o eterno, a fênix
Renan, e agora o implacável Eduardo Cunha, tantos... Estamos no
Executivo, sim, mas o comandante Temer não sacia nossa fome. E o Temer é
o tipo de vice que 'não aporrinha', mas nós aporrinharemos, sim.
Esses comunas pensam que a gente é babaca. Temos séculos de aprendizado.
O PMDB é uma das mais belas florações de nossa história. Temos
interesses, claro. Queremos cargos e ministérios importantes, porque sem
nós não tem comuna que se dê bem. Não é assim que essa tigrada do PT
fala: 'Os fins justificam os meios?'. Pois é, nós somos os meios.
No entanto, os fins são deformados pelos meios e de 'meios' acabaremos
sendo 'fins'. Sentiram a profundidade do PMDB? Não há casamento sem
interesse. É belo e progressista o interesse. O desprendimento, a
honestidade alardeada são hipocrisia de teóricos. Já foi o tempo em que o
PT nos dominava, debaixo de destemperos e esculachos da presidenta.
Vocês acham que vamos sair em campanha para blindar essa mulher
antipática, brizolista? Vamos é continuar a defender a democracia com
nossos métodos tradicionais em que a vaselina e o 'toma lá dá cá' sempre
levaram o País para a frente.
O Eduardo Cunha que era o 'coisa ruim' virou 'coisa linda', pois ele é
um técnico, um expert tenaz em perfídias brasilienses. Antes, nossas
revoltas eram desorganizadas, sem rumo. Edu nos devolveu o orgulho e
consolidou um projeto de militância.
E nossos fins são frutos de uma grande tradição brasileira que os
maldosos chamam de 'corrupção', quando são hábitos incrustados em nossa
vida como a cana, o forró, nossos bigodes que chamam de bregas, as ancas
das amantes risonhas com ouro tilintando em pescoços e pulsos, diante
da palidez infeliz de nossas esposas.
Vocês não entendem que isso é a cara do País? Vocês reclamam de nossa
voracidade. E os milhares de glutões petistas - mais de 100 mil - que
invadiram o Estado com uma porcada magra, devorando o batatal do poder?
O PMDB é um exército de amigos unidos - qual o mal? Admire a beleza
superior deste patrimônio espiritual que nós possuímos, tanto em nosso
partido como nas alas aliadas.
E tem mais: nós do PMDB temos um projeto sim para este país... Um
projeto muito mais pragmático, mais progressista que esses dogmas de
1917 - abstrações ridículas como 'igualdade', 'controle social',
'comitês centrais', 'palavras de ordem'.
Nosso projeto é mais Brasil. 'São coisas nossas, muito nossas...', como
cantou o Noel. Nosso projeto é uma girândola de malandragens que deixam
cair pelas brechas, pelas frestas, fecundas sementes, migalhas de
progresso. É isso: tudo o que houve de bom no País foi fruto de
negociatas, do adultério entre o privado e o público.
Trata-se apenas da continuação de um processo histórico. O dinheiro que
arrecadamos em emendas do orçamento, em gorjetas justas de empresas e
burocratas, esse dinheiro sempre foi a mola do crescimento do País.
Haveria Brasília sem ela? Onde estaríamos nós? Na roça de um país
agropastoril? Esta é a eterna verdade desde a Colônia, tão eterna quando
a miséria que sempre haverá. Querem o quê? Que fiquemos magros também,
que dividamos nossas conquistas com os que nada têm? Quando eu faço uma
piscina azul em meio à seca, não é crueldade, porque é preciso que
alguém tenha piscina na caatinga para que a dor dos miseráveis seja
suportável. A vida do pobre ganha um sentido hierárquico: ele está
embaixo, mas se consola porque alguém vive feliz em cima. Vamos olhar
para a outra face da beleza: a alegria de ver a grande arte dos lucros
fabulosos, as mandíbulas salivando a cada grande negócio fechado, o
encanto dos shoppings de luxo, os roncos de jet skis à beira-mar, a
euforia dos almoços de conchavos... Tudo isso doura o nosso progresso.
Portanto, não nos venham com papos de inclusão social. É tudo lero-lero
para enrolar o povão. O PT não gosta do povo, não. O PT só gosta dele
mesmo e de um poder imaginário no futuro que ninguém sabe qual é. Não
fizeram uma mísera reforma estrutural, só houve shows de Lula na mídia e
PACs irrelevantes. E nos chamam de 'reacionários'; eles é que são. Não
somos responsáveis pelo desmanche do País - a culpa é unicamente do
Lula. O Lula é o grande culpado dessa transformação.
Bolivarianismo caboclo não admitimos. Jamais viraremos a Venezuela, como
os bolcheviques, para quem 'tudo vai bem na Venezuela', apesar do
exagero da 'mídia conservadora'. Nossa estratégia é mole, embuçada,
insidiosa, mas muito eficaz.
A classe dominante deste país é uma grande família, unida por laços de amizade total.
Nós somos muito mais Brasil do que esse bando de comunas que chegaram
aí, com um sarapatel de ideias feitas por um leninismo mal lido e um
getulismo tardio. Querem nos colar a pecha de ladrões, mas, por exemplo,
quem comprou uma refinaria para a Petrobrás no Texas por 1 bilhão e 200
milhões que não vale nem 100 milhões? Quem comprou? E o esquema da
Abreu e Lima, perto da qual Pasadena é um troco. Eles roubaram e roubam
muito mais e a gente fica com a fama? No entanto, sou otimista - acho,
sim, que a aliança PT-PMDB poderá ser refeita, se o PT conhecer seu
lugar. Mas faremos do nosso jeito, pois na infraestrutura de nosso
passado de donatários ninguém toca.
O PMDB é a salvação da democracia; suja, mas muito nossa."
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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