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22:05
ANDRADEJRJOR
SUELY CALDAS O ESTADO DE SÃO PAULO
A popularidade de Dilma
Rousseff despenca e 55% dos nordestinos, que a ela deram o grande troféu
da vitória em outubro, hoje consideram seu governo ruim ou péssimo e só
16% o aprovam. Os eleitores de baixa renda que a ela confiaram seu voto
e esperanças hoje desconfiam e mais de 50% reprovam seu governo.
Afinal, Dilma e o PT foram abandonados pelos pobres?
Quase não
foi notada a presença deles nas multidões que foram às ruas protestar
contra Dilma. Onde estavam? "O povão povão, quando se manifesta, em
geral é sob formas menos pacíficas: invasões, saques, quebradeiras",
explicou o historiador José Murilo de Carvalho, em entrevista ao Estado.
A história tem mostrado isso. Os protestos de rua contra o
ex-presidente Collor também foram liderados pela classe média,
principalmente os estudantes caras-pintadas. Nem por isso os pobres
deixaram de apoiar o impeachment, o fora Collor. O que surpreende,
agora, é a repentina e meteórica perda de apoio aos governos do PT da
parcela da população em que eles mais investiram politicamente e
tentaram favorecer nos últimos 12 anos.
A perda de apoio foi tão
repentina quanto a esperança em relação ao futuro foi se esvaindo. É
verdade que nos últimos 12 anos a miséria diminuiu, a pobreza reduziu,
os pobres passaram a consumir, a comprar geladeira e TV novas e até
aquele carrinho usado para os passeios de domingo. Mas manter e melhorar
essa nova vida, sem recuos e sem retroceder ao passado, exigiram de
Lula, de Dilma e do PT o que eles não fizeram pois não souberam fazer:
pensar, organizar, planejar e pavimentar o crescimento seguro e contínuo
da economia. Construir progresso, sem ter de depender da sorte (Lula no
primeiro mandato) ou de ações de fôlego curto (as desonerações
tributárias).
Nos primeiros anos de Lula, com Antonio Palocci na
Fazenda, mal ou bem havia uma agenda dirigida ao crescimento, mas ela se
desfez - antes mesmo da queda do ministro, que ocorreria meses depois -
no momento em que ele perdeu a disputa pelo comando da economia para a
então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
A partir daí o
governo do PT abandonou as reformas, os planos para perseguir o
crescimento e passou a viver um dia a dia medíocre, ajustando aqui e ali
para ganhar popularidade fácil, agindo no ritmo do aqui e agora, vencer
eleições, manter-se no poder - e nada de projeto para o futuro. A
estratégia passou a ser gastar dinheiro. O gasto público explodiu, as
pedaladas fiscais (tipificadas como crime pelo TCU) proliferaram, os
truques e alquimias derrubaram a confiança ao chão, os investimentos
pararam, a indústria definhou e as contas públicas foram pelos ares.
Diante
deste quadro, não demoraram a surgir sinais de perda das conquistas
sociais. Em 2014 o Ipea pesquisou e descobriu que a miséria voltara a
crescer desde 2013. Mas havia uma eleição presidencial à frente, era
fundamental esconder os números, só divulgá-los após o pleito. Na
campanha, eleitores pobres foram iludidos com cenas na TV de um país
próspero, saudável. E mais promessas que implicavam mais gastos, com um
caixa já zerado e um déficit gigante a ser enfrentado.
A vitória
de Dilma foi apertada porque a classe média já via um segundo mandato
insustentável e votou contra o PT. Fechadas as urnas, a população pobre
saiu das cenas de fantasia da campanha e caiu na real: voltou o
desemprego; a tarifa de energia elétrica e a inflação em alta puniram a
renda de quem não tem; o desemprego reapareceu; a corrupção na Petrobrás
e fora dela levou à paralisação de várias obras públicas e desempregou
milhares de trabalhadores; a recessão voltou a assombrar e o governo
confessa esperar uma retração econômica de 0,9% este ano. É óbvio, as
consequências mais cruéis dessa explosiva combinação - recessão e
inflação alta - recaem sobre os mais pobres, a parcela da população mais
vulnerável e indefesa. Até agora eles estão ausentes das ruas, mas já
começaram a viver o inferno que lhes foi ocultado nas eleições. Não
foram eles que abandonaram Lula, Dilma e o PT. Foram eles os
abandonados.
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