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22:06
ANDRADEJRJOR
EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
A ameaça de
insolvência em que se encontram fundos como o Postalis, dos Correios, e
Funcef, da Caixa, deve-se não apenas a gestões negligentes, imprudentes
ou imperitas, mas também à má-fé
São imensas as frestas
abertas da corrupção no Brasil. Poucos ou até mesmo inexistentes são os
setores infensos à ação de malfeitores ávidos em avançar sobre o
patrimônio público, ora em benefício do patrimônio pessoal, ora
direcionando-o para políticos ou partidos que, em troca de vantagens, os
protegem. São chocantes os exemplos que, neste sentido, nos foram
oferecidos pelo mensalão e agora, mais recentemente, pelo petrolão –
casos em que se conluiaram servidores públicos de alto escalão, grandes
empreiteiras, parlamentares e siglas políticas, todos envolvidos num
mesmo objetivo, o de apoderar-se de dinheiro alheio para obter lucros
escusos.
Em meio à repercussão centralizada naqueles dois maiores
e mais conhecidos escândalos, por frestas pouco menores – mas não menos
importantes do ponto de vista da moralidade – esvaem-se também recursos
de pequenos contribuintes que recolhem parcelas de seus salários na
esperança de garantir futura aposentadoria. A corrupção também pega em
cheio alguns dos mais ricos fundos de pensão de estatais federais, como
se revela nos casos do Postalis e do Funcef, respectivamente dos
servidores dos Correios e da Caixa Econômica. Não escapam da mesma sanha
o Petros (da Petrobras) e o Previ (Banco do Brasil).
A ligá-los
há uma primeira coincidência: são todos administrados por gestores
indicados pelo PT, PMDB e outros partidos. Uma segunda coincidência:
todos se tornaram deficitários e incapazes de garantir a perpetuidade da
seguridade prometida aos seus milhares de associados. E terceira: a
ameaça de insolvência em que se encontram deve-se não apenas a gestões
negligentes, imprudentes ou imperitas, mas também à má-fé. A ponto de se
cometer fraudes documentais em que tintas corretoras de uso escolar
foram utilizadas para adulterar cifras e cifrões.
O Postalis
apresenta rombo de R$ 5,7 bilhões e, para tapá-lo, sua diretoria
pretende recorrer ao mais usual artifício: obrigar aqueles que em nada
contribuíram para o descalabro a pagar a conta mediante desconto, por
longos 15 anos, de 26% de seus salários. O “furo” no Funcef é também
superior a R$ 5,5 bilhões e o remédio encontrado para cobri-lo é
semelhante, isto é, aumentar por 12 anos a alíquota de contribuição
previdenciária dos empregados. Claro que nos dois casos as entidades de
representação dos servidores movem medidas judiciais para que eles não
sejam punidos com o corte de um quarto de seus salários.
Como os
fundos de pensão movimentam cifras gigantescas, em boa parte oriundas
diretamente também dos cofres públicos, sua crise administrativa e moral
passa a ser assunto de interesse coletivo e que precisa ser investigada
a fundo. Daí a iniciativa de alguns senadores de partidos de oposição
visando à criação da CPI dos Fundos, mas o governo – por razões óbvias,
mas nunca declaradas – se esforça para impedi-la. Já conseguiu, por
exemplo, que a bancada do PSB retirasse suas assinaturas de um
requerimento de instalação e articula outras medidas para enterrá-la de
vez, embora a oposição siga tentando: na sexta-feira, dia 17, o líder do
PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima, disse ter as assinaturas necessárias
para protocolar o pedido, e vai fazê-lo na próxima quarta-feira, dia
22.
Podemos nos espantar com a atitude do governo de querer
empurrar para debaixo do tapete a necessária investigação dos fundos?
Não. Pelo contrário, a sabotagem apenas expõe à luz do dia a hipocrisia
de quem afirma que se deve ao atual governo o combate rigoroso à
corrupção no país. Na verdade, não se deve ao governo, mas a
instituições do Estado que, com independência, têm sido assertivas na
tarefa de selar algumas das incontáveis frestas – como o que vêm
fazendo, no caso emblemático da Operação Lava Jato, o Ministério Público
Federal, a Polícia Federal e o Judiciário.
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