por Ruy CastroFOLHA DE SÃO PAULO
Uma coisa é certa: o nível dos acusados do petrolão é muito mais alto
que o do mensalão. Nível cultural, digo. É só ver como respondem aos
interrogatórios na Polícia Federal ou na CPI --serenos e articulados,
colocando direito os pronomes e enunciando com gosto cada sílaba. A
turma do mensalão era francamente casca grossa. Também, pudera: compare
os valores que passaram pelas mãos de uns e de outros.
Até calados, os petrolões são de outra extração. Tome o ex-diretor de
Serviços da Petrobras, Renato Duque. Apontado como um dos arrecadadores
de propina para o PT--ainda estão calculando, mas parece que já chegaram
aos dez dígitos--, ele justificou seu mutismo com uma bela frase do
Eclesiastes, livro da Bíblia: "Há a hora de falar e a hora de calar.
Esta é a hora de calar". Muito chique.
Há dias, uma busca em sua casa, na Barra, descobriu uma coleção de 130
supostas obras de arte por Miró, Chagall, Volpi, Guignard, Djanira e
outros figurões da pintura. Ali estariam milhões de dólares, lavados e
passados. Mas, sob o crivo dos peritos, constatou-se que, exceto por uma
escultura de Frans Krajcberg, a maioria era de falsificações,
reproduções e gravuras --pouco mais que uma coleção de "Gênios da
Pintura" da Abril. Não importa. Talvez Duque estivesse se familiarizando
com o assunto para, um dia, ir às compras dos originais.
E, num rocambolesco quarto secreto, a PF encontrou também um sortimento
de joias, relógios e adereços, entre os quais 30 canetas Montblanc
--"para presentear os amigos", disseram. Como torcedor da Parker, isso
não me disse nada. Mas sei o que uma Montblanc representa em certos
círculos.
Não será surpresa se ainda encontrarem sob a cama de Duque uma primeira
edição de "A Arte de Furtar", do padre Antônio Vieira, de 1652. Um
fac-símile.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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