Hélio Schwartsman
Para um país que fez sua "revolução" num 1º de abril e que não resiste a
um estelionatozinho eleitoral, nada mais adequado do que celebrar com
pompa o dia da mentira. Colocando a questão sem firulas: por que
identificamos políticos com mentira?
A razão básica é que eles mentem. Na verdade, todos mentimos. Os estudos
acadêmicos que tentam computar o número de inverdades que as pessoas
contam pintam um quadro não muito bonito de nossa espécie. O psicólogo
Robert Feldman, por exemplo, avaliando interações de apenas dez minutos
entre desconhecidos, constatou que eles mentem em média três vezes cada,
podendo chegar a 12 nos casos extremos.
Existem, porém, motivos para crer que políticos estejam um pouco acima
da média da humanidade. Num de seus experimentos, Feldman filmou
adolescentes mentindo sobre o gosto de um refrigerante. A bebida era
intragável, mas eles deveriam dizer que a acharam deliciosa. Depois,
submeteu os vídeos a um júri que deveria apontar quais jovens foram mais
convincentes. O intrigante foi constatar que os que se saíram melhor em
ludibriar os observadores eram os estudantes mais populares, isto é,
que tinham maior número de amigos e participavam de mais atividades. A
conclusão é que há uma correlação positiva entre capacidade de mentir e
competência social --atributo indispensável da carreira política.
Isso significa que termos de conviver para sempre com governantes mentirosos?
Provavelmente sim. Antes, porém, de amaldiçoar a sorte, lembre-se de que
uma das razões para a grande prevalência do embuste é que nós somos
suas vítimas voluntárias. No fundo, todo o mundo quer acreditar nos
falsos cumprimentos que recebe. Uma parte do cérebro de fato acredita e
isso gera reações químicas que provocam prazer. Mesmo o mais desafinado
dos mortais se sente bem quando é elogiado por seu hipócrita professor
de canto.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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