por Jayme Eduardo Machado.
(1) Nossa democracia engendrou o conceito de “minoria esmagadora”, tendo à frente um audacioso. O espertalhão iletrado busca justificar-se moralmente não só para constranger a maioria provocando as minorias à dissidência, mas mostrando que é injusto que haja minorias étnicas, raciais, sociais, de gênero, etc. porque maiorias não devem se prevalecer dessa vantagem numérica, mas sim submeter-se à vontade das minorias, ao contrário dos que pensam as democracias avançadas. Maiorias só prevalecem na soma de votos a favor.
(2) Nossa democracia não admite alternância no poder, porque seus líderes pregam que a idéia única é a base da estabilidade social. Nesse ponto, sua criatividade corrige a instabilidade que a discordância resultante da implantação de novas idéias provoca nas democracias tradicionais.
(3) Nossa democracia inovou o conceito de soberania popular e (4) de liberdade eleitoral, corrigindo a desvantagem de permitir a livre escolha dos governantes pelos governados, porque geradora de insegurança para ambos. Pois ao garantir uma quota de eleitores disposta a abrir mãos da liberdade de escolha, em troca está lhes garantindo a segurança de uma tranquila e permanente dependência do governo. E este, é claro, fortalece a certeza de permanência do poder.
(5) Nossa democracia também já superou o modelo tradicional de divisão dos poderes, porque a hegemonia deve pertencer ao Executivo, que, se necessário, será terceirizado a um partido. O Legislativo pode ser comprado para votar a seu favor, e a cúpula do Judiciário, pode ser montada para que em algum ponto fora da curva, um membro do colegiado possa externar a virtude da gratidão. Montesquieu, pensa nossa democracia, foi imprudente ao propor a independência dos poderes e ingênuo ao concebê-los harmônicos.
Por fim, nossa democracia, mais pragmática que suas congêneres, crê piamente no (6) princípio da autoridade, mas descobriu que controlar as que manuseiam dinheiro público seria reduzir-lhes o poder. Por isso a chefia decidiu loteá-lo a desonestos, para nele se garantir parecendo honesta.
* Jornalista, ex-subprocurador-geral da República
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