por Rodrigo Constantino O GLOBO
Patrulha demonstra um grau de intolerância com as divergências diametralmente oposto ao grau de tolerância que alega defender
George Orwell descreveu em “1984” o inferno que seria viver num mundo
dominado pelo “Grande Irmão”, com um Estado onipresente que invade até
nossos sonhos para controlar nossos pensamentos. O que ele não poderia
ter previsto é um mundo dominado não por um, mas por milhões de
“pequenos irmãos”, todos atentos a cada comentário nas redes sociais,
para verificar se estamos seguindo de perto a cartilha do politicamente
correto.
Essa patrulha demonstra um grau de intolerância com as divergências
diametralmente oposto ao grau de tolerância que alega defender. Os
patrulheiros falam em nome das “minorias”, desejam salvar o planeta,
combatem todo tipo de preconceito e amam todos, desde que se encaixem
exatamente no perfil “correto” que eles mesmos possuem. Desviou uma
vírgula, fogo no herege!
Em “End of Discussion”, Mary Katherine Ham e Guy Benson mostram como
essa postura está matando o livre debate de ideias nos Estados Unidos,
nação formada com base no amplo respeito à liberdade de expressão. Com
inúmeros casos reais, eles demonstram que essa patrulha, quase sempre da
esquerda, cria um ambiente de intolerância que leva cada um a adotar a
autocensura para não cair em desgraça se fizer um comentário infeliz.
Os indivíduos razoáveis preferem muitas vezes ficar de boca fechada
sobre assuntos mais controversos para evitar a fúria de uma minoria
raivosa e organizada, que consegue intimidar eventualmente até uma
maioria silenciosa. Trata-se de uma polícia do pensamento cada vez mais
agressiva, que não mede esforços em rotular com adjetivos nefastos
aqueles que discordam de sua seita.
Ninguém gosta de ser chamado de racista, reacionário, preconceituoso,
especialmente aquele que não é nada disso. Por esse motivo, a tática
funciona. Xingar um canalha de canalha não surte o efeito desejado, pois
ele, sendo canalha, não liga. Mas acusar alguém de “homofóbico”, por
exemplo, por ter sentimentos desconfortáveis com a ideia de jogar no
lixo a instituição milenar do casamento tradicional, isso irá, sem
dúvida, lhe incomodar.
O medo de ser ridicularizado ou ofendido publicamente poderá impedi-lo
de se expressar e de travar um diálogo construtivo acerca do tema
polêmico. Alguns não ligam, ou possuem instrumentos de defesa, como
blogs bastante acessados. Mas e aquele que apenas desejava expor sua
visão aos amigos nas redes sociais e, de repente, se vê alvo de ataques
furiosos da patrulha organizada? Sua tendência natural será recuar,
calar-se para não ter que conviver com aquilo.
A internet ajudou a criar esse clima bipolar, maniqueista, que, por sua
vez, politizou cada esfera de nossas vidas. Tudo passa a ser questão de
partidos, e você deve escolher seu lado, ter opinião formada sobre cada
assunto, por mais polêmico que seja. Não após muita reflexão e debates
civilizados e honestos, mas de forma simplista: é contra ou a favor? E
isso irá defini-lo como uma pessoa “do bem” ou “do mal”, do lado
“correto” ou do lado “errado”.
É a cultura do “cala a boca” que deriva do monopólio das virtudes e fins
nobres de um dos lados ideológicos. O ponto não é mais discutir de
forma apaixonada sobre o que você defende ou acredita, e sim argumentar
que o outro lado não deveria se manifestar. Ele é “ruim” em suas
intenções, “malvado”, e não deve ter direito de ser sequer oferecido
como uma visão alternativa.
Mas quando todos vivem como se estivessem eternamente em campanha, de
olho nas “curtidas”, então cada um irá agir como um político, mais
cínico, atento ao que o outro lado quer ouvir, em vez de falar o que
realmente pensa, como um ator mascarado. Cada um de nós será um
ativista, um militante 24 horas por dia, observando se os amigos estão
defendendo as causas “certas” ou se estão se desviando para o lado do
“mal”. É algo cansativo e até insuportável para a maioria.
Há uma máquina demagógica em curso que atira para matar em seus
oponentes. Qualquer um que já experimentou defender publicamente
bandeiras mais conservadoras sabe disso.
“Fascista!”, gritam aqueles que se parecem com os “camisas negras”
italianos sem nem se dar conta disso. “Reacionário intolerante!”, bradam
as “almas bondosas” que, se poder tivessem, usariam uma guilhotina para
encerrar o assunto logo de uma vez, como fizeram seus antecessores
jacobinos.
Outra vítima desses jacobinos modernos é, claramente, o humor. Piadas
inteligentes, ironias, leveza, nem tente isso com os cruzados
politicamente corretos. Eles preferem te eliminar a rir das coisas
complicadas da vida. Você é um insensível, um monstro. E fim de papo!
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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