por Eliane Cantanhêde O Estado de São Paulo
O momento político atual lembra muito a eleição de 2006, quando o PT
sofria o imenso desgaste do mensalão e o então presidente Lula parecia
fadado à derrota, mas ambos, partido e presidente, respiraram fundo,
reuniram as tropas, resgataram a maior base partidária da história e
mergulharam de cabeça num vale-tudo raramente visto. Saíram do inferno,
ganharam a eleição com ampla margem de votos e levaram não só a classe
média, mas o próprio Lula, ao paraíso.
Dizem, plagiando Marx, que a história só se repete como tragédia ou como
farsa, mas é exatamente isso que o PT, Lula e agora também a presidente
Dilma Rousseff esperam fazer. Fragilizados e tontos pelo petrolão, pela
crise política, pela economia e pela sensação de fim de ciclo, eles,
mais uma vez, deram todas as chances para a oposição traçar uma
estratégia, unificar o discurso, definir horizontes, mas a oposição
jogou tudo para o alto.
Quando abrirem o olho, os tucanos poderão se ver de volta no tempo, a
2006, com o PT e Lula não apenas recuperados, mas revigorados.
Na campanha de Lula contra Geraldo Alckmin, o PSDB achou que o PT estava
morto e a vitória estava no papo. Não estavam. O PT recuperou a velha
garra e uniu suas bases e seus aliados. O PSDB se dividiu, errou a mão,
conviveu com variadas traições e gerou desconfiança para os parceiros e
para a população. Resultado: com mensalão ou não, Lula ganhou 11,6
milhões de votos do primeiro para o segundo turno, enquanto Alckmin
perdia 2,4 milhões.
Hoje, novamente, o PT se reorganiza. Lula deixou de falar mal de Dilma
pelos cantos e foi dividir responsabilidades pela sustentação do mandato
com quem tem liderança, inclusive com Michel Temer, refém de uma
fidelidade compulsória.
Renan Calheiros manobra no Senado para segurar a Câmara, José Sarney faz
o que pode para manter o PMDB na linha, Temer tenta dar liga ao Senado,
à Câmara, ao PMDB e aos demais partidos aliados. E, todos juntos,
empurram com a barriga a votação das contas do primeiro mandato de Dilma
no TCU. Se fosse hoje, seria um desastre. Daqui a 20 ou 30 dias, poderá
não ser tanto.
Nesse tempo, Dilma usará suas falas e aparições públicas para massificar
a ideia de que impeachment é “golpe”, repisará mil vezes o valor da
democracia e lembrará a legitimidade do voto da maioria ontem,
esquecendo a rejeição da maioria hoje. Condenará até o “vale-tudo”, por
mais irônico, ou indecente, que isso seja. Afinal, Lula ganhou em 2006
metido num macacão cor de abóbora, com a mão suja de petróleo, dizendo
que os tucanos iriam vender a Petrobrás e ele iria transformá-la na
maior companhia do planeta. Todo o mundo, literalmente, sabe no que deu:
a Petrobrás é a empresa mais vilipendiada e endividada do planeta! Mas o
que importa para Lula é que ele venceu.
E ele não convoca só o “exército” do MST, mas prepara todos os seus
exércitos e todo o seu arsenal para uma guerra em que o PT tem
estratégia, objetivo, ordem unida e hierarquia contra uma oposição que
não conseguiu traçar nenhuma estratégia, fracionou seus objetivos e está
tão sem hierarquia quanto sempre esteve. Não será surpresa, portanto,
se PT, Lula e Dilma emergirem do fundo do poço, governarem
tranquilamente até o fim e ainda chegarem competitivos a 2018.
Atenção, porém! Se não será surpresa, essa recuperação também não está
escrita nas estrelas. Entre o céu e a terra, entre governo e oposição,
há a crise econômica, uma rejeição de mais de 70%, as manifestações de
domingo e sabe-se lá quantas Operações Pixuleco. Como diz um experiente
líder do País, um fator importantíssimo na política é a
imprevisibilidade, o imponderável.
PT, Lula, Dilma e governo, mesmo machucados, têm imenso poder e imensa
força, mas ninguém pode tudo, o tempo todo, e ainda há muitas batalhas
pela frente – como Renato Duque, por exemplo. Independentemente de PT,
PSDB e política, a Lava Jato continua, não é mesmo, procurador Rodrigo
Janot?
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