Carlos Newton
Os principais personagens da encenação não fazem nem questão de manter as aparências. Pelo contrário, fingem que está tudo certo, que não há nenhuma negociata de bastidores. É como se o senador Renan, que rompera com a presidente desde a inclusão de seu nome na lista dos envolvidos na corrupção da Petrobras e que passara a recusar os convites de reuniões com a presidente e até a humilhava, deixando de atender aos telefonemas dela, de repente tivesse mudado de ideia e reconhecido ter sido injusto com a governante. Quem é que pode acreditar numa farsa desse nível?
ADMIRADOR DE JANOT?
Ao mesmo tempo, Renan passou a ser admirador de Janot e o recebeu amistosamente nesta segunda-feira para um amistoso encontro no Senado, quando conversaram sobre amenidades e deram boas gargalhadas, como se o procurador-geral da República, em 6 de março, não tivesse imputado a Renan a prática de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Na época, o presidente do Senado respondeu com duríssimas críticas ao chefe do Ministério Público, mas agora subitamente se reconciliaram, ficaram amigos de novo. Quem pode acreditar nesse tipo de encenação?
E tudo acontece antes de se saber se Renan foi inocentado ou não no inquérito do Supremo, que corre em sigilo de Justiça. Ou seja, se houve o conluio Dilma/Janot/Renan, que está flagrante, à vista de todos, o conchavo também teria a participação do ministro Teori Zavascki, ou de algum membro de sua equipe, que antecipadamente se encarregou de revelar ao Planalto o teor do voto do relator. E quem pode acreditar em autoridades que não respeitam o sigilo de Justiça?
RELATOR SOB MEDIDA
Renan respondeu ao acordo rápido no gatilho. Designou como relator da recondução de Janot o prestativo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que decidiu acelerar o processo de escolha. No dia seguinte à indicação, já invadia as redes sociais para se dizer entusiasticamente favorável à recondução do procurador-geral. Quer dizer, antes mesmo de ter estudado o caso, o diligente relator já era a favor de Janot e dois dias depois anunciava que seu parecer está pronto para a próxima reunião da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, na quarta-feira. E quem pode acreditar nesse surto de eficiência desinteressada, numa manobra nauseabunda, que fede a quilômetros?
É triste constatar a que nível a política deste país foi relegada, por culpa única e exclusiva dos eleitores, que só sabem votar em pilantras. Já houve tempos em que a maioria dos políticos era formada de pessoas honestas, que eram de classe média e tinham problemas financeiros. Hoje, a grande maioria dos políticos é de membros da elite, enriquecidos ilicitamente, pois os fatos são públicos e notórios.
extraídadatribunadainternet





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