editorial da Folha de São Paulo
A história, com outros personagens, é bastante conhecida.
Passado seu período de glória –quando sustentava, com servilismo abjeto,
o regime militar–, a chamada Aliança Renovadora Nacional, a Arena,
viu-se constrangida a mudar de nome. Surgiu o PDS (Partido Democrático
Social) e, depois, o PP (Partido Progressista).
Não é outra a crônica da dissidência do arenismo, o PFL (Partido da
Frente Liberal). Identificado com os setores oligárquicos que vicejavam à
sombra do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), buscou uma
espécie de "aggiornamento" de fachada. Tornou-se o DEM (Democratas), que
vacila entre a extinção e a insignificância.
É outra, por certo, a mística do PT, bem como sua abrangência no
território nacional. Não muda a história, entretanto, no que tange ao
desgaste de uma sigla cada vez mais identificada com casos de corrupção e
escândalos semelhantes (ou bem maiores) aos que, tempos atrás,
denunciava sem descanso.
Vê-se com ironia, mas sem surpresa, a proposta de algumas lideranças do
partido para esquivar-se do estigma que o contamina. A cúpula petista
cogita criar uma "frente ampla" que congregaria sindicatos, associações,
ONGs e outros partidos em torno da agremiação, modelo bem-sucedido no
Uruguai.
O presidente do partido, Rui Falcão, nega a intenção de encobrir a
legenda sob o manto de outras organizações. Mas afirma ver com simpatia a
ideia de que se crie um movimento mais amplo, "no bojo da reforma
política".
Num paradoxo, porém, ao fim do mesmo encontro em que se aventava a ideia
da frente ampla, afirmações mais enfáticas vieram a público, num
manifesto assinado pelos 27 presidentes regionais do PT.
"Condenam-nos não por nossos erros", sustentam os líderes petistas, "que
certamente ocorrem numa organização que reúne milhares de filiados."
Mensalão, desvios na Petrobras, fisiologismo, inconformidade com a
imprensa livre? Nada disso, imaginam os signatários.
"Perseguem-nos pelas nossas virtudes", diz o manifesto –que propõe,
entretanto, reatar com setores sociais "inicialmente representados em
nossas instâncias e hoje alheios, indiferentes ou, até, hostis em
virtude de alguns erros."
Faz-se, então, a mágica. Erros "de alguns filiados" levam ao
distanciamento dos movimentos sociais; a reaproximação se faz numa
"frente ampla", sem destaque para um PT cujas virtudes, todavia, não só
são indiscutíveis como precisam ser relembradas.
O PT se esconde de si mesmo, sem deixar de ser o que é –e gira em círculos, pateticamente.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014





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