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22:28
ANDRADEJRJOR
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO O ESTADO DE SÃO PAULO
Dilma Rousseff
terceirizou a condução da economia para o ministro Joaquim Levy, a
articulação política para o vice Michel Temer e imaginava que o terceiro
turno havia acabado. Declarou isso na terça-feira. Acordou um dia
depois e percebeu que seu pesadelo não tinha fim. A prisão do tesoureiro
que o PT insistiu em manter com a chave do cofre uniu a oposição pelo
impeachment - e afastou a presidente do partido de Lula.
Se ficar
tête-à-tête com Barack Obama, Dilma poderia pedir dicas sobre como
lidar com uma oposição que está sempre tentando trançar-lhe o pé e, se
der, derrubá-lo. No Brasil, pode parecer novidade, mas nos EUA é do jogo
já faz tempo. O presidente tem de estar sempre em guarda e, de
preferência, na ofensiva, para tomar o controle da narrativa. Se recua, a
oposição toma-lhe terreno, o discurso e, quem sabe, o cargo.
A
cordialidade na política brasileira está tão superada quanto as peladas
entre deputados de partidos rivais na Constituinte. Lula fez muitas
amizades naquele tempo, mas poucos sobraram daquele time, seja no
Congresso, seja nas cúpulas partidárias. Os que restaram não jogavam
bola - salvo Aécio Neves. Sem interlocução, diminui a chance de acordos.
Nesse
novo campeonato político, o conflito é permanente, o adversário joga
bruto, a imprensa corneta e, às vezes, até o juiz é do contra - uma Taça
Libertadores sem fim. Mas, como bem enunciou o sábio corintiano Vicente
Matheus, quem entra na chuva é para se queimar. E queimados, todos
estão.
Pesquisa inédita mostra que, se a política está uma brasa,
os partidos viraram carvão - quando não, cinzas. O Ibope registrou novo
recorde na sua série histórica de preferência partidária: 2 de cada 3
brasileiros não têm simpatia por nenhuma sigla. No auge dos protestos de
2013 a taxa dos sem-partido chegara a inéditos 59%. Desde então,
cresceu e alcançou, este mês, os 66%.
Quando - entre uma votação e
outra de artigos da nova Constituição - o petista Lula e o futuro
tucano Aécio corriam atrás da pelota com confrades do PT e do PMDB, a
maioria dos brasileiros tinha preferência por esta ou aquela agremiação
política. Em 1988, havia inacreditáveis 26% de simpatizantes
peemedebistas. Os petistas e sua área de influência ainda eram 12%, e as
demais siglas somavam 24% das preferências do público.
Mesmo
durante as crises do final do governo Sarney, do impeachment de Collor e
da superinflação do começo da gestão Itamar a proporção dos sem-partido
nunca chegou nem à metade da população. Sua taxa oscilou na faixa dos
40% por toda a era FHC. O PSDB absorveu alguns ex-peemedebistas e bateu
em 10% de simpatizantes no primeiro mandato de Fernando Henrique. Mas
caiu junto com a popularidade do ex-presidente no começo de 1999.
Os
anos 2000 assistiram à ascensão fulminante do petismo. Como já haviam
faturado nas crises anteriores, os petistas cresceram durante o apagão
do governo FHC. Saíram de 15% das preferências para picos de mais de
30%, superando de vez o PMDB. O petismo emagreceu durante a crise do
mensalão enquanto os tucanos pareciam ganhar musculatura. Mas Lula se
reelegeu em 2006, o PT se alimentou da popularidade do presidente, e o
PSDB murchou.
Desde então, a taxa dos sem-partido é a imagem no
espelho do petismo. Se um sobe, o outro cai - sem que os demais partidos
cheguem nem perto dos dois dígitos e participem da cena. Foi nesse
período que a disputa política mais se acirrou. Quanto mais violenta a
partida, menor o público disposto a assisti-la.
Por causa da
economia, da corrupção e da decepção com Dilma, o PT caiu a 14% de
simpatizantes. Regrediu 15 anos. O resultado é que o antipetismo é hoje
mais do que o dobro do petismo. Segundo o Ibope, 35% dos brasileiros se
declaram contra o PT. Por isso, quase qualquer um - menos os queimados
partidos tradicionais - consegue mobilizar tanta gente em manifestações
antipetistas.
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